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O Napne e a formação para inclusão (Boletim IF em Movimento - mar/21)

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Publicado: Quarta, 24 de Março de 2021, 11h56 | Última atualização em Quarta, 24 de Março de 2021, 11h56 | Acessos: 768

Por Lorena de Almeida Cavalcante Brandão Nunes
Docente do Instituto Federal Goiano e membro do Napne

 

No último boletim informativo, de dezembro de 2020, foram compartilhadas informações do Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Específicas (Napne) no tocante a objetivos, composição e ações, destacando-se práticas conduzidas durante a pandemia de Covid-19. De forma introdutória, abordou-se como o referido Núcleo tem ultrapassado a intencionalidade de assegurar, no âmbito do Campus Ceres do Instituto Federal Goiano, ingresso, permanência e êxito de estudantes com necessidades educacionais especiais. Nesta direção, houve relato de três pesquisas, desenvolvidas sob orientação da professora Dr.ª Maria Lícia dos Santos, integrante do Napne, voltadas para a inclusão escolar e para a promoção do desenvolvimento integral, que transcende a dimensão acadêmica, perpassando aspectos pessoais e interpessoais.

Dando sequência a essa discussão tão relevante, propõe-se o diálogo sobre outras iniciativas que têm contribuído para que os discentes do Campus Ceres se sensibilizem diante da temática da inclusão escolar e desenvolvam competências que os permitam, em suas práticas profissionais, defendê-la e exercê-la. Sob essa finalidade, compartilharei algumas práticas por mim desenvolvidas no ensino de disciplinas das áreas de Psicologia e de Educação nos cursos de Licenciatura em Ciências Biológicas e em Química e na Especialização em Formação de Professores e Práticas Educativas.

Há muito, discute-se sobre a importância de a formação inicial e continuada de professores ser dotada de uma dimensão práxica; ou seja, constituir-se sobre, na e para a ação. No entanto, no que se refere à inclusão escolar, tema basilar para a constituição da identidade profissional docente, ainda se constata uma discrepância entre a quantidade de materiais bibliográficos disponíveis abordando questões teóricas e contemplando experiências práticas.

Tendo isso em vista, foram propostas, junto aos discentes dos cursos supracitados, discussões teórico-práticas acerca do conceito de desenvolvimento atípico, prevenindo que, futuramente, incorram na patologização e na psicologização de variações esperadas, e até mesmo saudáveis, do desenvolvimento humano típico. Abordou-se, ainda, a diferença entre necessidades educacionais especiais e queixas escolares, muitas vezes oriundas não de questões individuais dos estudantes, mas de aspectos institucionais que precisam ser revistos para a construção de uma cultura do sucesso escolar, em que o foco recai sobre a criação de condições favoráveis aos processos de aprendizagem e desenvolvimento, em detrimento do atendimento isolado a casos de dificuldades no processo de escolarização. Junto ao grupo de discentes do curso de Especialização em Formação de Professores e Práticas Educativas, cujas disciplinas apresentavam uma carga horária maior, foi possível a produção coletiva de cartilhas contendo orientações para a prática docente diante de necessidades educacionais específicas.


Considera-se que essas práticas foram exitosas não apenas por permitirem a mobilização e a construção de competências imprescindíveis à prática docente, mas, especialmente, pela conscientização sobre a função social desse ofício. Abaixo, compartilho relatos de discentes que viveram essa experiência:

“O estudo, na disciplina de Psicologia da Educação II, sobre o desenvolvimento típico e atípico e sobre a educação inclusiva foi uma experiência muito agregadora, que mudou a minha perspectiva e que possibilitou um olhar mais sensível acerca dessas temáticas, que pretendo aplicar à carreira profissional. Pude perceber que, como futura docente, devo olhar para os estudantes de forma individualizada, e não apenas para os que possuem algum laudo, mas para todos, enxergando não apenas dificuldades, mas também habilidades. Além disso, preciso reconhecer e respeitar o ritmo de aprendizagem de cada um, em como compreender condições externas ou institucionais que possam estar interferindo na aprendizagem, como o próprio relacionamento professor-estudante. Tudo isso precisa ser levado em consideração na preparação do ensino e no dia a dia em sala de aula, de forma que cada estudante se sinta acolhido e cuidado pelo professor e incluído no meio educacional, vivenciando uma aprendizagem significativa” (Josiane Soares Oliveira, discente do 4º período do curso de Licenciatura em Química).

“Estudar a inclusão é algo indispensável para a formação de professores, porque nos permite conhecer saberes, métodos e técnicas relacionados a essa demanda. Para mim, foi muito importante também ver que a inclusão não se limita a questões de desenvolvimento típico e atípico. Precisa também haver uma inclusão diante de questões psicológicas e emocionais, o que nem sempre acontece, apesar de serem cada vez mais comuns. Debater esse assunto durante a formação faz com que o professor comece a ver tudo com um novo olhar e que reconheça que, assim como os estudantes, ele também possui limitações. Ninguém vem com o conhecimento pronto e é preciso ter sabedoria para compreender isso e buscar trabalhar da melhor forma na inclusão dos estudantes. Quem trabalha com educação quer ensinar a todos. Então, trabalhar com todos os discentes é o mínimo. Precisamos saber como incluir cada um, com suas dificuldades, preferências e afinidades” (Vitor Carvalho de Oliveira, discente do 4º período do curso de Licenciatura em Química).

“A inclusão escolar, tema abordado na disciplina de Psicologia e Educação I, foi muito marcante para a minha construção enquanto professora. Através do documentário Borboletas de Zagorsk, mudei minha concepção em relação aos limites das pessoas. Percebi, à luz das ideias de Vygotsky, que qualquer um é capaz de aprender. Atualmente, estou lecionando no Ensino Fundamental I e trago comigo um olhar diferenciado em relação às dificuldades dos meus estudantes. Como professora, procuro a melhor forma de ensiná-los e sei que todos são capazes, independente de qualquer sorte de dificuldade” (Vanessa Rodrigues dos Reis, discente do 4º período do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas).

“Na disciplina Psicologia e Educação I nós vimos o documentário Borboletas de Zagorsk, que apresenta depoimentos de estudantes com necessidades educacionais especiais mostrando como a inclusão escolar impacta positivamente trajetórias de vida e contribui para a construção da cidadania. No entanto, ainda existem alguns preconceitos quanto ao fato desses estudantes aprenderem de forma diferente, mesmo que isso não seja algo exclusivo deles. Todos nós aprendemos de forma diferente, ainda que a metodologia aplicada seja a mesma. Então, cabe ao professor usar estratégias para auxiliar na aprendizagem de todos os discentes e ter a consciência de que ele também se beneficia com isso, porque está aprendendo formas diferentes de ensinar. Também é importante que a postura docente não seja de infantilizar o estudante com necessidade educacional especial. Por trás do laudo, há um sujeito pensante e crítico” (Wignei Junio Alves da Silva, discente do 4º período do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas).

“Foi muito importante trabalhar com a inclusão e com a diversidade durante a disciplina, e não só para o meu lado acadêmico. Foi muito importante para a profissão docente, porque pude olhar para as práticas em relação à inclusão e avaliar se, de fato, elas estavam sendo eficazes diante da diversidade existente em cada turma, da individualidade de cada estudante. E isso foi muito significativo pelo fato de que essa avaliação foi seguida pela idealização de ações possíveis objetivando ensinar de forma plural e igualitária. Não apenas estudamos metodologias e técnicas, mas participamos da construção de propostas e exercitamos a nossa autoria através da criação de uma cartilha, apresentando conceitos, materiais e sugestões para a prática docente” (Raphael Francisco Pereira, discente da Especialização em Formação de Professores e Práticas Educativas).

“Quando o tema foi apresentado, ficamos curiosos e reflexivos, porque, na nossa sociedade, existe o estereótipo de que trabalhar de forma eficaz com estudantes que tem algum tipo de transtorno de desenvolvimento é quase impossível. Na nossa experiência, que passou por um processo de pesquisa, percebemos que a quebra de paradigmas é necessária e precisa partir do meio acadêmico e profissional. Diante disso, propusemos práticas que gostaríamos de exercer e de ver acontecendo nas escolas. Também recomendamos uma oficina de filmes voltada para a inserção no mundo autista, a partir da qual os professores consigam ver potencial em si e em seus discentes. Afinal, é necessário preparar para receber. Como diz Elisama Santos, é impossível cuidar da criança sem cuidar do adulto que cuida dela. Ao finalizar nosso trabalho, descobrimos que desafios surgem ao longo do caminho na carreira em que nos propomos a desempenhar. Cabe a nós decidir se vamos ficar com o que a sociedade diz em seus achismos ou se vamos nos instrumentalizar para a ação” (Lorrany Chinaglia Messias Valadares, discente da Especialização em Formação de Professores e Práticas Educativas).


Professores mudam trajetórias de vida por meio da transformação de consciências. Favorecer, cada vez mais, esse processo é uma das intenções do Napne e contamos com cada servidor do Campus Ceres nessa missão. Somos todos educadores e potencializadores de mudanças na nossa sociedade!

 

 

 

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Campus Ceres

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