Inovar é a saída
Campus Ceres abre a II Semana Acadêmica com palestra sobre Inovação e Desenvolvimento, ministrada pelo diretor de Políticas de Inovação do MCTIC
Texto: Tiago Gebrim
Fotos: Alexandre Oliveira
O Campus Ceres do Instituto Federal Goiano (IF Goiano) realizou nesta terça-feira, 15 de maio, a abertura da II Semana Acadêmica. O evento congrega atividades dos cinco cursos de graduação da unidade e do Programa de Pós-Graduação em Irrigação no Cerrado. Serão quatro dias de atividades envolvendo diversas áreas do conhecimento e realizadas diuturnamente. A expectativa é de que, ao longo do período, o evento receba cerca de 500 participantes.
A solenidade de abertura teve participação da Camerata de Violões de Barro Alto, que fez uma apresentação com repertório diversificado, incluindo músicas brasileiras consagradas, e finalizando o concerto com execução do Hino Nacional. A mesa diretiva foi composta por coordenadores de curso e pessoal do corpo gestor, além do discente Filipe Beserra, vice-presidente do Centro Acadêmico de Agronomia, que falou representando as demais representações estudantis.
Em seu texto, o estudante destacou o momento, propício para vivenciar experiências que tragam conhecimento e maturidade, que devem ser direcionados ao desenvolvimento científico e social do País como um todo. “Educação e bons profissionais só se fazem quando os estudantes são protagonistas da sua própria educação, por meio do estudo pessoal, da participação em projetos de pesquisa, extensão, ensino, monitoria e nas organizações de eventos. (…) Lembremos do nosso compromisso maior de construirmos um Brasil ético e justo, e para isso é preciso um caráter firme, corajoso e muito amor e claro do conhecimento”, encerrou Beserra, acompanhado dos demais presidentes de CAs da unidade.
A presidenta da comissão organizadora da Semana Acadêmica, Flávia Abrão, agradeceu aos esforços conjuntos, dando destaque à participação dos estudantes, essencial para coordenar as mais de 60 atividades que compõem o evento. Para o diretor-geral da unidade, Cleiton Mateus, a realização da Semana mostra que a discussão científica não está posta somente nas capitais, sendo indicativa de que produção de conhecimento e educação de qualidade nos interiores do País já é realidade.
(Esq. para dir.) Os coordenadores de curso Simone Firmino, Ilmo Correia, Jaqueline Ribeiro, Flávia Abrão, os diretores de Ensino, Adriano Braga, e geral, Cleiton Mateus, o gerente de Extensão, Rangel Rigo, e os coordenadores Renato Rodovalho, Socorro Viana e Henrique Oliveira
Inovar é a saída – Convidado para a abertura do evento, o professor Jorge Mário Compagnolo, da Universidade Federal de Santa Catarina, ministrou a palestra Ciência, Tecnologia, Inovação e Desenvolvimento. Doutor em Engenharia Elétrica, Compagnolo atualmente dirige o Departamento de Políticas e Programas de apoio à Inovação no Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).
O professor usou uma abordagem rica em exemplos para falar da necessidade de aplicar o conhecimento, desenvolvido em anos de pesquisas, na produção de soluções inovadoras, que agreguem de valor, e, assim, levem adiante o desenvolvimento do País. Compagnolo falou de nações como a China e Coréia do Sul, que há cerca de três décadas tinham situação similar ou pior que a brasileira no contexto da produção tecnológica, e hoje despontam no cenário internacional.
De forma a ilustrar a diferença de valor entre produtos conforme há mais ou menos tecnologia agregada, o professor fez uma comparação com base no preço dividido por quilograma, envolvendo diversos itens: para cada quilo de commodities, vendido a cerca de 10 centavos de dólar, o mesmo peso de um automóvel custa 10 dólares. Envolvendo mais tecnologia, um quilograma de aparelhos eletrônicos, como smartphones, chega a 1000 dólares. Com ainda mais agregação tecnológica, um avião tem, apresentado por quilograma, o valor médio de 10.000 dólares.
Compagnolo foi provocativo: “é muito bom produzirmos commodities, mas chegarmos a ser um país desenvolvido somente com elas, é difícil”. Para ele, somente a inovação tecnológica pode colocar o Brasil em um lugar de destaque, produzindo produtos de valor agregado no mercado internacional e alavancando. Sobre esse desafio, o professor citou o que chamou de tríplice hélice da inovação: as Instituições Científicas, Tecnológicas e de Inovação (ICTs), que enquadram também universidades e institutos federais, o poder público, por meio do fomento à pesquisa e desenvolvimento, e o setor privado.
“As universidades e institutos federais não tem como missão inovar. Quem faz inovação é o setor empresarial”, concordou o professor, para logo complementar: “Por outro lado, o mercado não consegue fazer inovação sem os talentos que saem das Instituições. E as ICTs têm obrigação de participar desse processo, de interagirem com o setor que quer inovar”, completou. Em sua opinião, existe uma tradição acadêmica em que estudos com grande potencial aplicável acabam sua trajetória em prateleiras. “Nós fomos treinados a sermos pesquisadores, mas não é só esse o caminho”, conjetura Compagnolo.
Inovação, tecnologia versus linguagem – Mostrando que o desafio pode ser encarado de várias formas, o palestrante mostrou que o processo de inovação decorre não somente da mudança de paradigma tecnológico, mas também da interpretação de uso dessa. Um dos exemplos é o PVC, utilizado inicialmente em encanamentos, de forma a sanar o problema da ferrugem das tubulações. Entretanto, posteriormente o mesmo material adquiriu uso em outros produtos, como telhados, para mitigar o problema de cupins.
“Um exemplo bem brasileiro é o da Melissa. A Grendene trouxe a primeira linha de produção de embalagens plásticas para garrafões de vinho, substituindo a palha. Mas, com a mesma tecnologia, passaram a produzir calçados: a Melissa. E hoje é a maior empresa calçadista do Brasil, em número de pares, e maior produtora mundial de sandálias”, informou Compagnolo, ilustrando a inovação por meio da mudança de linguagem. Para ele, isso demonstra que a inovação, dentro das ICTs, exige grupos multidisciplinares em atuação, pois muitas soluções já existentes em uma área podem ser empregadas em outros contextos, com sucesso.
Ao falar sobre o novo Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação, estabelecido pelo Decreto nº 9.283, de 7 de fevereiro de 2018 , o pesquisador chamou atenção acerca das obrigações estabelecidas para as Instituições Científicas, Tecnológicas e de Inovação, que devem instituir políticas de inovação que visem geração de inovação no ambiente produtivo e transferência de tecnologia. Sobre esta, foi categórico sobre a necessidade de cultivá-la nas Instituições. “Há desenvolvimento de patentes, mas elas estão só nas prateleiras. Não posso tratar patente como artigo científico”, falou Compagnolo, e arrematou: “A patente é um instrumento de negócio, não um indicador acadêmico”.
O professor Jorge Mário Compagnolo, do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações
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