Essa pagina depende do javascript para abrir, favor habilitar o javascript do seu browser! Ir direto para menu de acessibilidade.

Opções de acessibilidade

GTranslate

    pt    en    fr    es
Página inicial > Últimas Notícias Ceres > Mostra da Diversidade traz palestras e oficinas para entender o Brasil
Início do conteúdo da página

Mostra da Diversidade traz palestras e oficinas para entender o Brasil

0
0
0
s2sdefault
Publicado: Terça, 16 de Outubro de 2018, 21h20 | Última atualização em Sexta, 19 de Abril de 2019, 21h22 | Acessos: 1117

Evento realizado em único dia, a Mostra teve onze atividades, que propiciaram aos estudantes compreender a historicidade e dinâmica atual de embates da sociedade brasileira

Por Tiago Gebrim
Fotos: Alexandre Oliveira; Tiago Gebrim

 


Público de mais de 430 estudantes envolveu os discentes dos cursos técnicos do Campus Ceres e estudantes do Campus Uruaçu do IFG

 

Com a casa cheia, o Campus Ceres do Instituto Federal Goiano (IF Goiano) realizou nesta terça-feira, 16 de outubro, a quinta edição de sua Mostra da Diversidade. Com conceito reformulado, o evento, que antes focava nas especifidades culturais das regiões brasileiras, em 2018 resolveu trabalhar as questões sociais. Assim, a Mostra levou aos estudantes do Ensino Médio Técnico debates importantes sobre temas que atravessam a sociedade e urgem, na conjuntura atual, de esclarecimento e compreensão.

 


Professora Mirelle São Bernardo, responsável pelo I Colóquio de Letras, que ocorrerá na manhã do dia 17 de outubro, o docente João Cardoso, presidente da comissão organizadora da V Mostra da Diversidade, e o diretor-geral do Campus Ceres, Cleiton Mateus

 

A programação da Mostra foi iniciada com a pesquisadora e doutoranda Flávia Gabriella Mariano, que ministrou a palestra Nas redes e nas ruas: mulheres, violências e a importância histórica do feminismo. Inicialmente, a palestrante definiu as categorias analíticas, elementos constitutivos de processos sociais que são percebidos em teorias ou visões de mundo. A partir da exemplificação das categorias, Mariano trabalhou o desenvolvimento do feminismo em três fases distintas.

Na primeira, marcada pelo movimento das sufragistas, no início do século XX, teve-se a conquista do direito ao voto pelas mulheres no Reino Unido, até então excluídas do processo eleitoral. No Brasil, contudo, tal direito só foi conquistado na década de 1930, com a ascensão de Getúlio Vargas à presidência da república. A segunda fase do feminismo se deu em 1949, com o lançamento de O Segundo Sexo, pela filósofa e ativista política Simone de Beauvoir. Na obra, ela analisa a posição social da mulher nas relações reproduzidas no decorrer da história.

“O corpo feminino é socialmente inserido em signos que denotam a construção da masculinidade ou feminilidade. A ideia de homens serem mais fortes e mulheres, frágeis, são construções sociais”, explica a pesquisadora antes de lembrar a máxima de Beauvoir: Não se nasce mulher, torna-se mulher. Com isso, esclarece, “ela não queria dizer que se nascia sem o sexo biológico definido, mas sim que esse corpo biológico transmuta-se em corpo cultural”. A palestrante exemplificou as diferentes cobranças a que são submetidos meninos e meninas, desde a tenra infância, destacando a imposição de comportamentos às mulheres: “essas cobranças são desestímulos para que a menina experimente sua realidade, e estímulo para que o menino use seu corpo e descubra o mundo”.

 


Flávia Gabriella Mariano, responsável palestra Nas redes e nas ruas: mulheres, violências e a importância histórica do feminismo. Entre os dados apresentados por ela, é alarmante a baixa representatividade das mulheres na política - na Câmara dos Deputados, eram aproximadamente 10% do total no período 2015 - 2018

 

Na terceira onda do feminismo, mais recente, o gênero aparece como categoria de análise. Mariano resgata a explicação dada sobre as categorias, no início de sua exposição, para falar do assunto, que por desatenção tem sido usado de formas descabidas. “Gênero categoriza representações de significados do que é feminino e do que é masculino; são diferenças culturais, mas apresentadas na sociedade de forma naturalizada”, conta a pesquisadora. Com alguns exemplos, ela explicitou como diferenças biológicas foram sendo enquadradas pelas forças de poder, passando a determinar comportamentos, papéis sociais e relações históricas assimétricas.

Ao fim de sua fala, Flávia Mariano apresentou dados sobre a necessidade do feminismo no século XXI, mostrando de forma clara os desafios ainda enfrentados pelas mulheres, principalmente no Brasil. Um deles se refere à violência: o País ocupa o 5º lugar no ranking mundial de feminicídios, que são crimes contra a vida de mulheres em situações de violência de gênero. O caso é ainda pior quando se trata de mulheres negras: conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a taxa de assassinatos aumentou 54% entre 2003 e 2013. Entretanto, alerta Mariano, a violência contra a mulher é naturalizada na sociedade, o que impede que os casos sejam tratados com amplo debate e a visibilidade necessários.


Diversidade étnica pelo Brasil –
O segundo momento da Mostra da Diversidade trouxe aos estudantes do Campus Ceres uma mesa redonda composta pelos pesquisadores Themis Nunes Bueno, doutoranda pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e os indígenas do grupo Tapirapé Gilson Ipaxi'awyga e Iranildo Arowaxeo'i, mestrandos pela mesma instituição. Nomeado Diversidade linguística nas línguas indígenas brasileiras, o encontro foi bem além do anunciado, e debateu fortemente a questão dos preconceitos vivenciados pelas diversas etnias indígenas no Brasil.

Em sua apresentação, Bueno destacou a classificação das línguas indígenas brasileiras, dando enfoque aos dois grandes troncos – Tupi e Macro-Jê –, que juntos abarcam 19 famílias de línguas conhecidas. A pesquisadora também falou do curso de Licenciatura em Educação Intercultural da UFG, inaugurado em 2007, que forma professores para atuarem nas aldeias indígenas brasileiras.

 



Na primeira imagem, Themis Nunes Bueno, e, na segunda, Iranildo Arowaxeo'i. Sobre ser professor na aldeia, ele comenta que "atualmente há muita pressão dos conhecimentos e modos de vida não indígena, e precisam ser mediados e trabalhados dentro dos povos"

 

As falas de Ipaxi'awyga e Arowaxeo'i versaram sobre o cotidiano Tapirapé e os equívocos cometidos, repetidamente, sobre as etnias indígenas brasileiras. Iranildo detalhou tarefas como a pescaria com uso de plantas conhecidas como timbó: esmagadas e colocadas na água, secretam uma seiva tóxica que atordoa os peixes e os faz boiar, sendo facilmente capturados. Também falou sobre a construção das casas nas aldeias e a divisão de tarefas entre homens e mulheres na tribo, como a plantação na roça e preparo de refeições. Sobre essas, o pesquisador apontou uma diferença da sociedade não indígena: “A refeição das famílias é bem diferente do meio urbano. Na comunidade, tudo que é extraído e pescado é comido em comunidade, pelas famílias reunidas. A partir dessas cerimônias é que as crianças vão se familiarizando com seus parentes – avós, tios, primos”, relatou Arowaxeo'i.

A respeito da pluralidade de etnias e a má compreensão da sociedade falou Ipaxi'awyga, ou Gilson. Para ele, a população brasileira tem “enorme desconhecimento” sobre essa realidade. “Não há índio no Brasil; há povos, com diferentes línguas e culturas. O que a escola e a mídia passam é que há um povo indígena somente, que são primitivos, parados no tempo”, alerta o professor e pesquisador. Ele enfatizou sobre a necessidade de revisão dos materiais didáticos, que simplificam a questão e não dão conta da realidade – são 202 línguas e cerca de 304 povos indígenas diferentes.

“E aí nos veem assim, com calça jeans, tênis, e perguntam ‘Nossa, mas índio com celular, com calça?’, e eu digo pra vocês: alguém aqui se veste como Pedro Álvares Cabral ou escreve como Pero Vaz de Caminha?”, ilustrou Ipaxi'awyga. Na lista de preconceitos enfrentados entram os mitos de benefício vitalício concedido pelo governo e do excesso de terras destinados aos indígenas – área ínfima, pelo número de habitantes, se comparado aos grandes latifúndios do agronegócio. “O índio carrega essas dificuldades, em um país com tamanha diversidade e tanto desconhecimento”, compartilha Gilson, e finaliza: “A culpa não é dos indivíduos. São as instituições que precisam revisar sua metodologia de trabalhar a questão indígena”.


Oficinas da diversidade –
Na parte da tarde, o evento foi concentrado nas oficinas, ministradas por professores e pesquisadores do próprio IF Goiano e também de instituições convidadas. As oficinas versaram, entre outros temas, sobre diversidade sexual, feminismo, democracia e campo de debate democrático, diversidade étnica, religiosidades brasileiras, acessibilidade na Educação e diversidade musical. Os eventos ocorreram simultaneamente, em nove salas de aula, sendo que cada estudante pode escolher a oficina conforme seu interesse acadêmico.

 



Oficinas A construção social do feminino e do masculino, ministrada pelas professoras Rhanya Rafaella e Mirelle São Bernardo, na primeira imagem, e Diversidade sexual e temas atuais, com a docente Simone Firmino

 

 

Ascom Campus Ceres

 

_____________________________________________________________________________

Notícia elaborada conforme as restrições vigentes para o período eleitoral

Fim do conteúdo da página