Formar, pesquisar, reindustrializar, desenvolver
Primeiro Congresso de Pesquisa do Campus Ceres foi aberto discutindo o papel da pesquisa e da pós-graduação na definição de rumos do Brasil
Por Tiago Gebrim
(Fotos: Tiago Gebrim)
O Campus Ceres do Instituto Federal Goiano (IF Goiano) iniciou na noite da última quinta-feira, 09 de junho, seu primeiro Congresso de Pesquisa e Pós-Graduação. O evento nasce da experiência bem-sucedida com o Seminário Interno de Iniciação Científica, que neste ano completa 11 anos e ocorre dentro do Congresso, junto a outras iniciativas ligadas aos cursos de especialização e mestrado da unidade.
A abertura contou com apresentações musicais do professor Wagner Freitas, da Casa, e da Orquestra de Violeiros de Uruana. As falas se concentraram em autoridades do Campus Ceres – a saber, o gerente de Pós-Graduação, Pesquisa e Inovação, Matias Noll, também coordenador do evento, e o diretor-geral, Cleiton Mateus – e da Reitoria, com participação do reitor, Elias Monteiro, e da pró-reitora substituta de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação, Iraci Balbina.
Em um discurso apaixonante, Balbina falou sobre a coletividade do processo de construção da pesquisa. “Mesmo distantes fisicamente, estamos juntos, aproximados pelo mesmo objetivo, pelos mesmos interesses. Uma noite de leitura de um texto não é somente uma noite de estudo, mas é parte da construção de um mundo melhor. Tudo o que é bom custa caro. E não é caro de dinheiro, mas de esforço, suor, dedicação”, apontou.
Iraci Balbina, pró-reitora substituta de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação do IF Goiano
Evento foi realizado no auditório do Prédio dos Cursos de Pós-Graduação. Ao fundo, na tribuna, o diretor-geral do Campus, Cleiton Mateus, durante sua fala
O diretor-geral, Cleiton Mateus, enalteceu o evento e pontuou a grandeza que representa, para o Campus, poder realizar seu próprio congresso da área de pesquisa. Ele agradeceu os estudantes envolvidos em todas os níveis da investigação científica, bem como os servidores do Campus. “Eu falo que a moeda corrente em nosso meio é a produção científica, e sem o engajamento de estudantes e servidores, essa produção fracassa”, afirmou.
Ciência e política na mesma mão – Com vasto currículo, que envolve coordenação de Pesquisa no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, na presidência da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino (Andifes) e na reitoria da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), o convidado da noite foi o professor Arquimedes Ciloni, presente virtualmente, via videoconferência.
Engenheiro Civil de formação, com doutorado em Engenharia de Materiais, Ciloni enquadrou seu discurso na importância da ciência para o desenvolvimento do Brasil – aliás, tema anunciado de sua palestra. Sua fala evitou partidarismos e trouxe a urgência de o Brasil voltar seus olhos para a pesquisa e sua conexão com o setor produtivo, principalmente industrial, de forma a superar o atraso do País em exportar matéria prima e importar produtos tecnológicos a preços altíssimos.
“Precisamos de uma política de reindustrialização, precisamos cuidar dos micro e também dos grandes empresários. E, para isso, precisamos formar mais, mais na graduação, na pós-graduação e assim combater esse ‘ralo de dólares’, que nos tira nosso ainda pouco recurso”, enfatizou. Ciloni listou cinco pontos de déficit tecnológico do País: farmacêutico, químico, de equipamentos de radiofonia, equipamentos médicos e eletrônicos. Para ele, esses pontos precisam estar visíveis e comporem a agenda de qualquer candidato à presidência da república para as próximas eleições brasileiras.
O palestrante ilustrou seu apelo com a história da Coréia do Sul, cujos governos, no último quarto do século XX, investiram maciçamente na pesquisa e desenvolvimento científico. Como resultado, conseguiram transformar um País com índices baixíssimos de industrialização em uma potência de diversas marcas atualmente de destaque global – entre elas, LG, Samsung e Hyundai. Para Arquimedes Ciloni, é preciso que não só os governantes, mas também as elites brasileiras compreendam a necessidade desse investimento. “Essa é, por exemplo, a diferença com os americanos. A elite econômica e intelectual americana planejam os rimos dos Estados Unidos, independentemente do governo”, explica.
O caminho está posto, e se faz pelo investimento em pesquisa, pela valorização dos pesquisadores e pelo seu ingresso nas indústrias, em vez de um encastelamento nas universidades. Tudo isso poderá garantir que o País amplie seu desenvolvimento tecnológico e passe a produzir produtos de valor agregado, para o próprio mercado e, também, para a exportação. E isso não significa condenar as exportações primárias já existentes. “Produzir soja, exportar minério de ferro, sim, mas também produzir avião no Brasil. Produzir tecnologia”, defendeu Ciloni, citando o bom exemplo da Embraer.
“Governos passam. A Embrapa fica. A Embrapii tem que ficar”, afirmou o ex-reitor da UFU, fazendo alusão às duas grandes empresas estatais de pesquisa agropecuária e pesquisa e inovação industrial. A atuação das instituições federais de ensino, o que inclui universidades federais e Institutos Federais, precisa continuar sendo vanguarda no desenvolvimento científico, mas aproximada das indústrias e dos dirigentes políticos. “Precisamos ajudar os governantes a pensar os rumos do País em ações que transcenderão e muito seu tempo no governo”, concluiu.
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