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Pesquisa de Doutorado de Professor do IF Goiano é destaque na UFG

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Publicado: Sexta, 24 de Outubro de 2025, 07h41 | Última atualização em Domingo, 02 de Novembro de 2025, 07h36 | Acessos: 355

Jornal UFG destaca a relevância da tese de doutorado "O que você está fazendo aqui? Uma etnografia sobre narrativas de pessoas com 60 anos de idade ou mais estudantes de graduação da UFG e seus agenciamentos" do Professor Delson Ferreira do IFGoiano Campus Hidrolândia. Leia a matéria na íntegra. 

Na contramão do etarismo: pesquisa revela trajetórias de estudantes 60+ na UFG

Eles superam preconceitos, reinventam a velhice e são cada vez mais presentes na Universidade

 

Idosos

Paulo Marra foi personagem de uma reportagem do Jornal UFG em 2016, quando cursava Filosofia (Foto: Carlos Siqueira/Secom UFG)

Realizar sonhos interrompidos na juventude, continuar ativo mesmo após a aposentadoria e ainda buscar aperfeiçoamento profissional contínuo: muitas são as motivações que levam pessoas com mais de 60 anos a iniciarem uma graduação. Esse público, já muito distante da faixa etária considerada "esperada" nas universidades, que é entre 18 e 24 anos, tem aumentado sua presença nas instituições e mostra uma mudança social e cultural do nosso tempo. Uma pesquisa etnográfica realizada na Universidade Federal de Goiás (UFG) revela que estudantes com 60 anos ou mais estão redefinindo ativamente os significados da velhice, desafiando a ideia de que a universidade é um espaço exclusivo para jovens.

A pesquisa de doutorado, defendida em maio de 2025, foi realizada no Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFG por Delson Ferreira, hoje com 68 anos e professor do Instituto Federal Goiano (IF Goiano). O projeto também faz parte do Laboratório de Experimentações Etnográficas e Marcadores Sociais das Diferenças, da Faculdade de Ciências Sociais (FCS) da UFG e foi orientado pelo professor Carlos Eduardo Henning.

Delson também foi um estudante nesta faixa etária e buscou explorar as experiências deste público em um local onde a juventude é, em peso, o maior foco. Os principais achados da pesquisa indicam que, por meio de seus próprios agenciamentos, esses estudantes constroem experiências universitárias bem-sucedidas, tanto em termos de aprendizado quanto de realização pessoal. Eles enfrentam esse ambiente acadêmico historicamente centrado na juventude, lidando com preconceitos como o etarismo, muitas vezes sintetizado na pergunta "o que você está fazendo aqui?".

O que a pesquisa mostra é que o preconceito não é suficiente para barrar o avanço destas pessoas na universidade. Segundo Delson, normalmente esse é o impacto inicial no ingresso na graduação, mas logo isso passa e os grupos de estudantes se acostumam com os colegas. Não raramente, os idosos tornam-se referências nas turmas, justamente pela experiência de vida que possuem.

A pesquisa mostra uma nova perspectiva adotada por esses estudantes, que, em vez de se "desengajarem" socialmente – um papel tradicionalmente associado à aposentadoria e ao envelhecimento –, criam novos projetos e possibilidades para suas vidas, mostrando que a velhice pode ser um momento para realizar sonhos educacionais adiados ou iniciar novas jornadas de conhecimento. O que para muitas pessoas significa o fim de uma trajetória e um "dever cumprido" torna-se, para essas pessoas, uma possibilidade de novas realizações.

A intenção do pesquisador foi analisar essas narrativas etnográficas a partir de um olhar "de perto e de dentro", aproveitando sua proximidade etária com as pessoas entrevistadas. A tese buscou compreender como a experiência universitária contribui para produzir novos significados para a velhice desses estudantes. Além de investigar suas motivações e os impactos da graduação em suas vidas, o trabalho busca oferecer subsídios para a criação de políticas públicas voltadas para o acolhimento e a boa convivência com este público crescente no ensino superior brasileiro. A pesquisa adota uma abordagem "polifônica", buscando dar voz e protagonismo às histórias de vida dos próprios interlocutores e interlocutoras.

Entrevistados

O estudo etnográfico foi realizado com 11 estudantes de graduação da UFG, sendo seis mulheres e cinco homens, com idades que variavam de 60 a 77 anos no momento das entrevistas. As entrevistas foram feitas por videoconferência, pois ainda foram coletadas no período da pandemia de covid-19. O perfil predominante dos entrevistados é de pessoas brancas (sete), pardas (três) e uma negra, todas cisgênero e heterossexuais. A maioria se identifica como de classe média ou média alta, e grande parte já estava aposentada. O pesquisador destaca a ausência, entre as pessoas respondentes, de indígenas ou LGBTQIA+, apontando uma limitação do campo no que se refere à diversidade.

As motivações para ingressar na universidade na maturidade são diversas e profundamente pessoais. Para alguns, é a realização de um sonho adiado na juventude, muitas vezes por conta de obrigações familiares ou de trabalho. Para outros, representa um novo projeto de vida após a aposentadoria, uma forma de se manterem ativos e engajados intelectualmente. Há também aqueles que buscam uma segunda ou terceira graduação por puro prazer de aprender ou para se aprofundar em uma área de interesse. Suas trajetórias educacionais são variadas: enquanto alguns já possuíam diplomas universitários, para outros era a primeira oportunidade de cursar o ensino superior.

"O que você está fazendo aqui?"

Apesar do sucesso e da satisfação, a jornada não é livre de desafios. O preconceito relacionado à idade, conhecido como etarismo, manifesta-se de formas sutis e diretas, como mostra a pesquisa. A pergunta "o que você está fazendo aqui?", feita por colegas e até professores, revela uma visão de que eles estariam "deslocados" ou "roubando a vaga" de um jovem.

Muitos enfrentam dificuldades com as tecnologias digitais usadas pela universidade, como a plataforma Sigaa, e relatam o cansaço de conciliar os estudos com a dupla jornada de trabalho e vida familiar. Ainda assim, as narrativas mostram seus agenciamentos cotidianos (conceito que significa que o estudante é responsável e conduz sua trajetória na instituição) e resiliência para superar esses obstáculos.

Políticas públicas de acesso

As experiências desses estudantes em cursos regulares de graduação na UFG diferem significativamente das oferecidas pelas Universidades da Terceira Idade (Unatis). As Unatis funcionam como projetos de extensão, com uma educação "não formal" voltada ao bem-estar, socialização e lazer, sem conferir um diploma de graduação. São experiências bem diferentes das vividas pelas pessoas entrevistadas na pesquisa, por exemplo. Como destaca o pesquisador, "os estudantes da UFG estão integrados ao ambiente acadêmico formal, com os mesmos direitos, deveres e exigências de qualquer outro aluno, o que lhes garante uma experiência de pertencimento e legitimidade plena, culminando na obtenção de um diploma de graduação".

Em sua tese, Delson destaca a iniciativa recente da Universidade de Brasília (UnB) de criar um vestibular exclusivo para pessoas 60+. Para ele, esse é um exemplo de política de acesso que mantém a integração formal, facilita o ingresso e pode ser replicado por outras universidades. Segundo ele, a política da UnB responde a um cenário de demanda social reprimida, pois existe um público potencial com plenas condições intelectuais e existenciais para retornar à universidade.

De fato, como ele relata, "o número de candidatos para as vagas ofertadas pela UnB é 'sempre absurdamente maior' do que o número de vagas disponíveis, refletindo um movimento de comportamento e atitude das pessoas 60+ que buscam o acesso ao ensino superior". O mecanismo de acesso específico da UnB inclui a aplicação de uma prova de seleção, além da disponibilização de dois processos seletivos por ano. "É crucial notar que os e as estudantes mais velhos e velhas não desejam 'benefícios gratuitos', mas sim que a universidade reconheça seus acessos formalmente", avalia Delson.

O pesquisador destaca que as pessoas entrevistadas mostraram grande satisfação em entrar na universidade pela mesma via de ingresso de outros estudantes, seja pelo Sistema de Seleção Unificada (SiSU), seja como portador de diploma, vendo como uma vitória pessoal que gera autovalorização e empoderamento. Ele avalia que um edital específico para esse público seria uma ótima forma de incentivar o acesso e, ao mesmo tempo, favorecer o preenchimento de vagas ociosas.

A política de acesso foi implantada como uma política institucional que partiu da própria universidade, em conjunto com a Reitoria e a Pró-Reitoria de Ensino (Proen), sendo esta última responsável por executá-la a cada semestre. A política abrange uma "gama de cursos muito grande", e a UnB tem percebido internamente o interesse do processo, o que tem levado a uma constante ampliação do número de cursos ofertados.

Esse modelo de acesso é defendido na tese como um exemplo que outras universidades públicas poderiam adotar. Ao contrário de muitas instituições que acolhem o público 60+ apenas por meios genéricos, como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ou entrega de diploma, a UnB oferece uma forma específica de ingresso.

A adoção de políticas específicas de acesso para o público 60+, para o pesquisador, ajudaria a resolver a questão da ociosidade de vagas em diversas universidades. "Mais do que uma obrigação, essa política permite à universidade dar sentido institucional aos recursos e justificar sua relevância social, abrindo-se para a cidadania integrada por jovens, adultos e idosos, combatendo, assim, o 'juventude-centrismo' do ensino superior".

O pesquisador destaca que estamos diante de uma mudança relevante na sociedade, com o envelhecimento da população e uma mudança de perspectiva no que se esperava da velhice. Portanto, para ele, há uma necessidade urgente de as universidades repensarem seu papel diante do envelhecimento populacional.

"É preciso superar a concepção 'juventude-centrista' que ainda estrutura o ensino superior e reconhecer que a busca pelo conhecimento não tem idade; é preciso centrar em atender a cidadania, seja o estudante jovem, adulto ou idoso. Atualmente, o percentual de estudantes com mais de 60 anos na UFG é ínfimo, cerca de 0,21%, o que evidencia a falta de políticas de inclusão, permanência e assistência voltadas para este público. É fundamental que as instituições desenvolvam estratégias de acolhimento e combatam ativamente o etarismo, garantindo que o ambiente os acolha", avalia o pesquisador.

UFG e projeto no Senado

A UFG, atenta às mudanças culturais e sociais vivenciadas nos últimos anos, criou, em 18 de outubro de 2024, o Núcleo Interdisciplinar em Envelhecimento (Nipee UFG 60+). O Núcleo possui planejamento estratégico e atua nas dimensões do ensino, da pesquisa e da extensão. Entre as metas institucionais em discussão, está a possibilidade de promover maior acesso de pessoas com 60 anos ou mais à Universidade.

Segundo a coordenadora do Núcleo, Ruth Losada de Menezes, essa pauta vem sendo debatida como uma iniciativa que poderá, futuramente, consolidar-se em política institucional, aproximando a UFG de outras universidades que já adotam medidas semelhantes. Em outubro, o Nipee realizou seu primeiro simpósio, fortalecendo o diálogo sobre o tema.

Existe também o Projeto de Lei 468/24 que tramita no Congresso, que torna obrigatórios vestibulares especiais para pessoas idosas, com formatos acessíveis e adequados. O objetivo é garantir a oportunidade igualitária de acesso à educação. Em análise na Câmara dos Deputados, o texto inclui a medida no Estatuto da Pessoa Idosa.

Hoje, a lei já prevê que as instituições de educação superior ofertem às pessoas idosas cursos e programas de extensão, presenciais ou à distância, constituídos por atividades formais e não formais. O deputado David Soares (União-SP) é o autor do projeto. Caso seja aprovada, a política será imediatamente obrigatória em todas as instituições de ensino superior.

Kharen Stecca, Editora Geral do Jornal UFG

Acesse aqui a tese O que você está fazendo aqui? Uma etnografia sobre as narrativas de pessoas com 60 anos de idade ou mais estudantes de graduação da UFG e seus agenciamentos.

 

Link para acesso à materia no Jornal UFG

https://jornal.ufg.br/n/195426-na-contramao-do-etarismo-pesquisa-revela-trajetorias-de-estudantes-60-na-ufg

 

 

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