A robustez da Ciência brasileira, apesar dos pesares
Em palestra para cursos de mestrado do Campus Ceres, Edward Madureira, ex-reitor da UFG, expôs situação atual da Pesquisa e Pós-Graduação e seus desafios futuros
Por Tiago Gebrim
Fotos: Cláudia Oriente e Tiago Gebrim
Um cargueiro robusto, capaz de suportar tormentas e resistir a desmandos, mantendo-se seguro e confiável. Mas até quando? Essa é, ao mesmo tempo, a melhor descrição do Sistema Nacional de Programas de Pós-Graduação (PPG) e a provocação feita pelo professor Edward Madureira Brasil, ex-reitor da Universidade Federal de Goiás e convidado do Instituto Federal Goiano (IF Goiano) para a aula especial de recepção dos estudantes das pós-graduações Stricto sensu do Campus Ceres.
O evento ocorreu no último sábado, 09 de abril, pela manhã, no auditório do novo Prédio dos Cursos de Pós-Graduação, com participação dos novos estudantes dos mestrados profissionais em Irrigação no Cerrado e em Educação Profissional e Tecnológica. Estavam presentes o reitor do IF Goiano, Elias Monteiro, e o diretor-geral do Campus Ceres, Cleiton Mateus. Além deles, participaram do momento o pró-reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação, Alan Costa, o gerente local da pasta, Matias Noll, e as coordenadoras dos programas, Priscila Romano e Mirelle de São Bernardo.
A palestra do professor Edward Madureira foi intitulada PPG no Brasil: História, desafios, perspectivas e oportunidades, e teve como ponto fundamental apresentar aos novos estudantes o “mundo” em que estavam ingressando, bem como as responsabilidades trazidas por ele. Ao mesmo tempo, a fala do ex-reitor não poupou a situação de arrocho em que a Pesquisa se encontra, atualmente, no Brasil. Para Edward, as instituições de pesquisa nacionais, principalmente as universidades públicas e os Institutos Federais (IFs), foram cruciais para o enfrentamento à pandemia de Covid-19, e provaram, mais uma vez, sua importância estratégica no desenvolvimento do País.
Em mais de um momento, Madureira Brasil trouxe à tona o fato de nos mantermos grandes importadores de tecnologia, mesmo depois de décadas de industrialização em solo nacional. E o motivo para isso é bastante claro, perpassando, sempre, pela falta de investimento em ciência. “A história da industrialização no Brasil mostra que começamos importando tecnologia e colocando a academia em um local separado, distante”, explica ele. Uma das exceções desse panorama, que confirma que “se investir, tem retorno” é a criação da Embraer, a primeira – e única – empresa brasileira de aviação. Nascida em 1969, a empresa hoje é uma das referências mundiais, produzindo inclusive jatos comerciais utilizados em todo o mundo, como a família E-Jets.
A força do Sistema Nacional de PPG está ancorada em iniciativas que deram certo e permanecem atuantes, embora não livres de dificuldades atualmente. As principais são o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), uma empresa pública, e o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Entre as ações, estão os importantes editais universais, para apoio a projetos de pesquisa, a contribuição na formação de novos pesquisadores em todo o território nacional, o financiamento de infraestrutura para pesquisa e o fomento da relação com indústrias para o desenvolvimento tecnológico.
“Conhecimento gera inovação, inovação movimenta a economia. E tudo isso se transforma em desenvolvimento social”. Com essa afirmação, o palestrante apresentou os desafios da PPG para construção do futuro do Brasil. Naturalmente, esses desafios se somam ao que está externo ao ambiente da Pesquisa e Pós-Graduação, como a valorização da ciência e tecnologia pelos governantes, a retomada da crença na ciência e também dos investimentos na área – desfalcados nos últimos anos, apesar da conjuntura pandêmica que demonstra a importância da ciência e dos serviços públicos de pesquisa, educação e saúde para o País.
Entre os principais desafios, na opinião do professor Edward Madureira, estão a redução da assimetria da oferta e formação de pesquisadores entre as diferentes regiões do País – algo já em andamento, inclusive pela interiorização e fortalecimento dos campi de IFs e universidades –, mas que precisa ser ampliado. Outro ponto é o fortalecimento das interações interinstitucionais, seja em nível estadual, federal ou internacional, pois “juntos somos mais fortes”, enfatizou mais de uma vez. Além disso, Madureira chamou atenção para a questão social: “Pesquisa e Pós-Graduação precisam ser inclusivas, interdisciplinares, inovadoras e internacionais. [...] Ciência é fundamental, mas não se pode virar as costas para o desenvolvimento social”, afirmou.
Por fim, deve-se aproveitar as lições trazidas pela pandemia de Covid-19 para o fortalecimento do “cargueiro”, que, para Edward, precisará abraçar e superar os desafios apresentados acima para se manter “robusto”. E uma delas é incorporar as práticas remotas para enriquecer o currículo dos cursos e a experiência dos estudantes. “Passemos de Ensino Remoto Emergencial para Ensino Remoto Estratégico”, provocou ele, afirmando que, se os cursos já preveem um percentual de disciplinas a serem cursadas remotamente, nada melhor que estimular o compartilhamento de vagas e disciplinas entre as instituições. E isso pode começar aqui: “defendemos um sistema federal de educação, por que não começarmos com um sistema estadual”?
(Esq. para dir.) Matias Noll, Cleiton Mateus, Alan Costa, Mirelle de S. Bernardo, Edward Madureira, Priscila Romano e Elias Monteiro
Estudantes dos cursos de mestrado em Irrigação no Cerrado e em Educação Profissional e Tecnológica e gestores no Auditório das Pós-Graduações do Campus Ceres
Ascom Campus Ceres
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