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Entrevista

  • Egresso premiado pelo CRQ fala sobre trajetória e experiências acadêmicas

    Estudante se formou na Licenciatura em Química em 2022, e atualmente cursa o mestrado acadêmico na área, na UFG

  • IF Mulheres (entrevista completa do Boletim IF em Movimento - set/21)

    Criado em 2020, para este Boletim, o IF Mulheres é um espaço destinado a divulgar as ações de mulheres que se vinculam ao IF Goiano. Esta seção, que objetiva combater a institucionalização das violências contra as mulheres, constitui-se como um espaço de referência e sororidade as nossas estudantes, servidoras e mulheres da comunidade local. Em vista das condições históricas, políticas e culturais machistas e patriarcais, ressalta-se a necessidade da construção de espaços como estes, tendo em vista que a naturalização das diferentes violências contra a mulher resulta na marginalização e silenciamento feminino em seus espaços de inserção/atuação. Nesta edição, entrevistamos três mulheres, que atuaram/atuam frente a ações para difusão de pensamentos feministas na nossa sociedade e trabalham com o empoderamento feminino.

    Tema: A importância do feminismo na vida das mulheres.

    A equipe desta ação agradece o espaço permitido pelos nossos gestores. Trabalhamos juntos para o crescimento da nossa instituição.

     

     

    Entrevistada: Ramayane Bonacin Braga

    Descrição profissional: Bacharel em Sistemas de Informação pela Universidade Estadual de Goiás, Campus Goianésia, com Especialização em MBA na área de Governança de TI. Atua na Educação Profissional desde 2009 em diferentes escolas da Rede EPT. Professora efetiva do Campus Ceres desde 2015, ministrando disciplinas na área de Engenharia de Software e Análise de Sistemas. Já coordenou projetos de extensão na área de Lógica de Programação para Criança da Educação Fundamental I. Coordena o Projeto Meninas Digitais no Cerrado desde 2016, junto aos professores Adriano Braga, Natália Louzada e Thalia Santana. O projeto Meninas Digitais no Cerrado faz parte dos projetos parceiros do programa nacional Meninas Digitais da Sociedade Brasileira da Computação (SBC). Faz parte do Comitê Gestor do Programa Meninas Digitais da SBC. Atualmente está cursando o mestrado em Educação Profissional (ProfEPT) do Campus Ceres.

    1. Todes aqueles que realizam uma pesquisa, ainda que superficial, sobre feminismo entenderão que se trata de um movimento de luta de mulheres que buscam a igualdade de gênero, ou seja, uma sociedade em que homens e mulheres tenham acesso aos mesmos direitos. No entanto, muitas vezes o feminismo é visto como o oposto do machismo, ou seja, um sistema de opressão das mulheres contra os homens. Para você, qual a origem dessa incompreensão em relação ao que o feminismo representa e quais são os impactos negativas que esse equívoco pode causar para os movimentos sociais?

    Primeiramente acredito que o movimento contra o Feminismo surge a partir daqueles que querem negar nossos direitos e assim criar uma imagem negativa para que as próprias mulheres não se vejam reconhecidas neste movimento tão importante por uma equidade de gênero. Os impactos negativos contra o feminismo, em 1º lugar, podemos definir como um retrocesso em uma luta que já obteve tantas conquistas importantes. Em segundo lugar poderia dizer que há uma dificuldade de entendimento, pelas mulheres, da importância do movimento e o que ele representa e quais conquistas foram alcançadas. E por último, se o movimento de Feminismo não for reconhecido como algo positivo e importante, teremos dificuldade de ocupar espaços de fala sobre temática em eventos e lugares públicos. Por isso, vejo como de suma importância para combater essa imagem negativa o conhecimento da história das conquistas e das lutas das mulheres que representam essas causas.

    2. Muitas mulheres feministas se encontram em uma posição dicotômica entre a sua atuação na luta feminista e a forma como se comportam em suas relações, visto que por mais que haja um processo de desconstrução em curso, todas e todos somos frutos de uma sociedade patriarcal. Isso significa que crenças machistas ainda podem influenciar o comportamento dessas mulheres em seus diferentes tipos de relacionamento (profissional, amoroso, familiar, etc). A partir dessa reflexão, qual seria a melhor forma de evitar que esse paradoxo (ser feminista e ter pensamentos/comportamentos machistas decorrentes do contexto patriarcal em que as mulheres se inserem) se torne mais uma forma de opressão contra as mulheres?

    Como dito, ser feminista em uma sociedade construída a partir de concepções patriarcais é viver em constantes julgamentos e reflexões por toda a sociedade, inclusive a família. O exercício de luta pela equidade de gênero deve ser diário e praticar a sororidade – na minha opinião, é uma das melhores formas de enfrentar esta cultura patriarcal, ser solidárias umas com as outras faz nos sentirmos apoiadas e mais fortes para entender que a luta é única e deve ser vista por todos e todas de uma forma positiva.

    3. O conto da aia, de Margaret Atwood, é um romance fictício que se passa em um futuro muito próximo, na República de Gilead (que era, anteriormente, os Estados Unidos da América). Nessa república não existem mais jornais, revistas, livros nem filmes, e as universidades foram extintas. O Estado é teocrático e totalitário e as mulheres são as vítimas preferenciais, anuladas por uma opressão sem precedentes, em uma sociedade em que elas perderam todos os seus direitos. Infelizmente, retrocessos como estes não ocorrem apenas na ficção. A história das mulheres iranianas é um exemplo disto – a partir da revolução islâmica em 1979, as suas vestimentas foram questionadas e, no início da década de 80, foi imposto um código de vestimentas obrigatório a estas mulheres. Nesse contexto, fica claro a fragilidade do direito feminino, descrito pela autora Simone de Beauvoir como uma concessão temporária. Com base no texto acima, escreva sobre a importância dos movimentos feministas para a sociedade brasileira e a manutenção dos direitos das mulheres.

    A missão de defender a equidade de gênero não é só um movimento feminista com brasileiras e mulheres mundialmente conhecidas, mas é uma obrigação muito maior descrita nos objetivos da ONU para 2030 e assinados por países do mundo todo. Portanto defender os direitos das mulheres e empoderá-las é uma missão mundial e de suma importância para que a sociedade possa no futuro ser mais próspera, justa e igualitária.

    4. Segundo Alexandra Gurgel (conhecida pelo perfil @alexandrismos), em matéria para a Revista Trip - Uol, “quando a gente pensa na nossa sociedade, que é patriarcal, percebemos que o machismo é a raiz do problema. Os homens veem a mulher como objeto e como algo a ser possuído. A mulher tem que ser subjugada ao homem e o olhar que importa é aquele do homem sobre ela. Essa pressão existe de qualquer jeito, a pressão para ser perfeita. Há um padrão para ser seguido e quem se aproxima mais dele é mais bonito”. A partir dessa afirmação, nota-se que, de um lado, a mulher feminista luta contra a imposição desses padrões sobre o corpo das mulheres, e, por outro lado, ela mesma sofre essas imposições sobre o seu corpo, recorrendo, muitas vezes, a tratamentos estéticos ou cirurgias plásticas para se aproximar desses padrões. Isto posto, considera-se que, em geral, essas mulheres são julgadas, por diferentes grupos, tanto quando lutam, quanto quando cedem aos padrões de beleza. Como criar uma rede de apoio e acolhimento para que haja maior acolhimento e compreensão entre as mulheres independente de suas escolhas pessoais?

    Toda e qualquer rede de apoio pode e deve ser criada sempre que existir alguém motivada a mudar um cenário que não está satisfatório, assim foi com o Meninas Digitais no Cerrado. Um projeto de empoderamento feminino na computação que nasceu pela motivação de duas professoras e um professor que acreditavam que o projeto poderia ajudar muitas meninas a escolherem os cursos de computação como profissão. Este ano o projeto completa 05 anos e o grupo cresceu bastante, já somos 04 professores que coordenam as atividades juntamente com as bolsistas e colaboradoras do projeto, e sempre com muitas estudantes e servidores apoiando e participando das atividades. Fazemos parte de uma grande rede de apoio que é o Programa Meninas Digitais da Sociedade Brasileira de Computação. Este programa apoia mais de 100 projetos por todo o nosso Brasil com a mesma missão de empoderar meninas na computação. Portanto é de suma importância que procuremos fazer parte de alguma rede de apoio assim teremos ambientes de falas, reflexões e ações para que possamos trabalhar nas futuras mudanças do nosso ambiente de convívio.

    5. A partir de sua experiência, qual mensagem de motivação, força e empoderamento você poderia deixar para nossas estudantes, servidoras e mulheres da comunidade local?

    Minha mensagem de motivação para todas as mulheres que fazem parte da nossa rede acadêmica é que conheçam mais sobre os movimentos feministas, faça parte de algum grupo que defendam nossos direitos. Se onde você trabalha ou estuda não tem nenhum projeto ou grupo que discutam essa temática e você acredita ser importante, comece a se movimentar, crie um projeto ou um evento ou mesmo um grupo de estudos. O importante é aumentar a rede de apoio e ajudar ainda mais mulheres a defenderem seus direitos, assim aos poucos vamos mudando essa sociedade tão desigual.

     

     

    Entrevistada: Thalia Santos de Santana

    Descrição profissional: Professora dos cursos de Informática do Campus Ceres do Instituto Federal Goiano (IF Goiano). Mestranda no Programa de Pós-graduação em Ciência da Computação (INF/UFG). Bacharela em Sistemas de Informação também pelo IF Goiano - Campus Ceres (2019). É uma das coordenadoras do projeto Meninas Digitais no Cerrado, e colaboradora do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Tecnologia da Informação (NEPeTI).


    1. Todes aqueles que realizam uma pesquisa, ainda que superficial, sobre feminismo entenderão que se trata de um movimento de luta de mulheres que buscam a igualdade de gênero, ou seja, uma sociedade em que homens e mulheres tenham acesso aos mesmos direitos. No entanto, muitas vezes o feminismo é visto como o oposto do machismo, ou seja, um sistema de opressão das mulheres contra os homens. Para você, qual a origem dessa incompreensão em relação ao que o feminismo representa e quais são os impactos negativos que esse equívoco pode causar para os movimentos sociais?

    A mulher sempre foi vista como impura, pecadora, bruxa. Mesmo nas sociedades mais antigas, a exemplo da Grécia Antiga, as mulheres já eram tidas unicamente como propriedade, seja de seus pais ou maridos. A partir do momento em que as mulheres passaram a repensar ou questionar os motivos do domínio dos homens, que sempre condenavam suas condutas, e reivindicar direitos de fato, começam a surgir pessoas para ir contra e privar mais uma vez as mulheres. Falar de direitos frequentemente negados e buscar por eles sempre enfrentou resistência na sociedade, e assim foi estabelecido um estigma no intuito de desqualificar este tipo de luta, que corrobora para criar uma ideia errada sobre o movimento feminista. Até porque o contrário de machismo não é feminismo, mas sim “femismo”. Como impacto, é muito mais fácil acreditar na primeira forma em que o feminismo lhe é dito e apresentado, consequência de anos e anos de opressão, do que simplesmente averiguar e compreender a causa, o que demonstra que o desconhecimento também oprime.

    2. Muitas mulheres feministas se encontram em uma posição dicotômica entre a sua atuação na luta feminista e a forma como se comportam em suas relações, visto que por mais que haja um processo de desconstrução em curso, todas e todos somos frutos de uma sociedade patriarcal. Isso significa que crenças machistas ainda podem influenciar o comportamento dessas mulheres em seus diferentes tipos de relacionamento (profissional, amoroso, familiar, etc). A partir dessa reflexão, qual seria a melhor forma de evitar que esse paradoxo (ser feminista e ter pensamentos/comportamentos machistas decorrentes do contexto patriarcal em que as mulheres se inserem) se torne mais uma forma de opressão contra as mulheres?

    Que levante a mão que mulher não passou por essa dicotomia! Quando começamos por este processo de questionamento e reflexão de direitos, de entender de fato o que é o feminismo, ainda somos fruto de vários anos de uma sociedade patriarcal. E por ora, as pessoas com quem mais convivemos, como a família, em todo instante imprimem comportamentos machistas (até mesmo inconscientemente) do que “devemos” ou “não devemos” ser para viver em sociedade: “Menina, não senta assim!”, “Não fale dessa forma, nunca vai achar um marido”, e assim sucessivamente. Para que possamos reverter esta situação, uma das formas seria o acesso à educação e ao conhecimento, ler, pesquisar, informar-se, conversar com outras mulheres... E foi assim que aconteceu comigo, propiciado pelo Campus Ceres e pelas pessoas que o constituem, como um espaço aberto para discussões. Assim, podemos entender melhor essa realidade que nos permeia, as relações sociais de gênero, e daí perceber o que de fato está errado para que possamos corrigir, evitando expressões machistas em nossas atitudes pessoais, para impactar futuramente no todo.

    3. O conto da aia, de Margaret Atwood, é um romance fictício que se passa em um futuro muito próximo, na República de Gilead (que era, anteriormente, os Estados Unidos da América). Nessa república não existem mais jornais, revistas, livros nem filmes, e as universidades foram extintas. O Estado é teocrático e totalitário e as mulheres são as vítimas preferenciais, anuladas por uma opressão sem precedentes, em uma sociedade em que elas perderam todos os seus direitos. Infelizmente, retrocessos como estes não ocorrem apenas na ficção. A história das mulheres iranianas é um exemplo disto – a partir da revolução islâmica em 1979, as suas vestimentas foram questionadas e, no início da década de 80, foi imposto um código de vestimentas obrigatório a estas mulheres. Nesse contexto, fica claro a fragilidade do direito feminino, descrito pela autora Simone de Beauvoir como uma concessão temporária. Com base no texto acima, escreva sobre a importância dos movimentos feministas para a sociedade brasileira e a manutenção dos direitos das mulheres.

    A primeira graduação de uma mulher no Brasil só ocorreu em 1887. As mulheres só adquiram direito ao voto feminino no país em 1932. Dados como esses relembram que embora hoje pareça trivial que uma mulher possa votar, trabalhar ou ter direito à bens em seu nome, a maior parte destes direitos possuem menos de 100 anos que foram conquistados. Ao mesmo tempo, todas essas conquistas são reflexo direto dos movimentos feministas, que se iniciaram em outros países e influenciaram a busca constante por igualdade de gênero, além de aproximação de demais pautas sociais de grande relevância. Nesta discussão de concessão temporária, apenas na Constituição de 1988 que juridicamente homens e mulheres foram considerados iguais. Não obstante, somente em 2006 é que a Lei Maria da Penha foi sancionada criminalizando a violência contra a mulher. É por esses e outros motivos que o poder de fala e a maior representatividade de mulheres, a exemplo dos espaços de poder, é de suma importância para mantenimento de nossos direitos, em que em condições de injustiça, ser mulher acaba sendo também um ato político.

    4. Segundo Alexandra Gurgel (conhecida pelo perfil @alexandrismos), em matéria para a Revista Trip - Uol, “quando a gente pensa na nossa sociedade, que é patriarcal, percebemos que o machismo é a raiz do problema. Os homens veem a mulher como objeto e como algo a ser possuído. A mulher tem que ser subjugada ao homem e o olhar que importa é aquele do homem sobre ela. Essa pressão existe de qualquer jeito, a pressão para ser perfeita. Há um padrão para ser seguido e quem se aproxima mais dele é mais bonito”. A partir dessa afirmação, nota-se que, de um lado, a mulher feminista luta contra a imposição desses padrões sobre o corpo das mulheres, e, por outro lado, ela mesma sofre essas imposições sobre o seu corpo, recorrendo, muitas vezes, a tratamentos estéticos ou cirurgias plásticas para se aproximar desses padrões. Isto posto, considera-se que, em geral, essas mulheres são julgadas, por diferentes grupos, tanto quando lutam, quanto quando cedem aos padrões de beleza. Como criar uma rede de apoio e acolhimento para que haja maior acolhimento e compreensão entre as mulheres independente de suas escolhas pessoais?

    Devemos começar pelas mulheres que estão a nossa volta, e como dito anteriormente, repensar nossas atitudes pessoais. Acolher o que é diferente (mas o que é diferente é de fato diferente? qual a referência adotada?) e ver a real “beleza”, que vai além de padrões estéticos – padrões esses que são socialmente construídos, em relação a corpos magros, corpos gordos, etc. Mesmo aquelas que se agarram às construções sociais do que é “definido pela sociedade” como ser mulher não conseguem atender a todos os padrões impostos pela sociedade – é necessária uma nova visão do belo. Mesmo entre nós mulheres ligadas à luta feminista é importante evitar julgar a escolha de outra mulher em relação à adesão a um padrão, mas sim estar ao lado dela para que se possa propiciar reflexão se aquilo é de fato uma escolha pessoal dela, ou, de forma inconsciente, o resultado de imposições de padrões sociais. Para mim, minha rede de apoio é e foi o projeto Meninas Digitais no Cerrado, capaz de me tornar uma pessoa melhor, mais empática e que pratica sororidade entre outras mulheres. Saber que você pode contar com outras mulheres neste processo é essencial.

    5. A partir de sua experiência, qual mensagem de motivação, força e empoderamento você poderia deixar para nossas estudantes, servidoras e mulheres da comunidade local?

    Sejam corajosas, acreditem em si mesmas e sigam sua intuição. A luta das mulheres é constante, mas resistamos e sigamos em nosso ato revolucionário: ser mulher!

     

     

    Entrevistada: Ianka Talita Bastos de Assis

    Descrição profissional: Web Design/UI Design na empresa Traço Design de Negócios

    1. Todes aqueles que realizam uma pesquisa, ainda que superficial, sobre feminismo entenderão que se trata de um movimento de luta de mulheres que buscam a igualdade de gênero, ou seja, uma sociedade em que homens e mulheres tenham acesso aos mesmos direitos. No entanto, muitas vezes o feminismo é visto como o oposto do machismo, ou seja, um sistema de opressão das mulheres contra os homens. Para você, qual a origem dessa incompreensão em relação ao que o feminismo representa e quais são os impactos negativos que esse equívoco pode causar para os movimentos sociais?

    Ao longo dos anos diversas mulheres lutam arduamente para que o movimento feminista seja respeitado, entretanto nem sempre a mensagem que queremos passar é replicada com exatidão. Em muitos casos a mídia torna-se sensacionalista distorcendo os fatos para que consigam vender mais, então o que dá lucro é dizer que: “Mulheres histéricas e seminuas estão circulando pelas ruas exigindo que os homens sejam exterminados do planeta”. Infelizmente essas ações midiáticas acarretam repulsa e aversão da sociedade para com o movimento feminista, o que gera fake news e descaso da população em permitir-se conhecer mais sobre a filosofia e ações que são verdadeiramente em prol da equidade de gênero.

    2. Muitas mulheres feministas se encontram em uma posição dicotômica entre a sua atuação na luta feminista e a forma como se comportam em suas relações, visto que por mais que haja um processo de desconstrução em curso, todas e todos somos frutos de uma sociedade patriarcal. Isso significa que crenças machistas ainda podem influenciar o comportamento dessas mulheres em seus diferentes tipos de relacionamento (profissional, amoroso, familiar, etc). A partir dessa reflexão, qual seria a melhor forma de evitar que esse paradoxo (ser feminista e ter pensamentos/comportamentos machistas decorrentes do contexto patriarcal em que as mulheres se inserem) se torne mais uma forma de opressão contra as mulheres?

    A desconstrução de estereótipos, padrões e ações é um processo lento. Trabalhamos com incertezas e por mais desconstruída, livre de pensamentos tradicionais que uma pessoa possa vir a ser, sempre teremos pensamentos machistas vez ou outra inconscientemente, isso se dá pelo simples fato de que fomos criadas em uma sociedade patriarcal que tolera as mulheres e as vê como reprodutoras e submissas. Entretanto, devemos nos policiar a tais pensamentos. Cada um, independente de gênero, raça ou classe merece respeito, empatia e amor. Entenda seu lugar no mundo, o seu lugar de fala, olhe a história e aprenda com a luta de nossas antepassadas; as lutas não foram em vão. Para que possamos evitar o paradoxo de sermos influenciáveis, devemos consumir o máximo de informação possível, avaliar se são verídicas e formar nosso próprio caráter sem tapar os olhos para as atrocidades do passado.

    3. O conto da aia, de Margaret Atwood, é um romance fictício que se passa em um futuro muito próximo, na República de Gilead (que era, anteriormente, os Estados Unidos da América). Nessa república não existem mais jornais, revistas, livros nem filmes, e as universidades foram extintas. O Estado é teocrático e totalitário e as mulheres são as vítimas preferenciais, anuladas por uma opressão sem precedentes, em uma sociedade em que elas perderam todos os seus direitos. Infelizmente, retrocessos como estes não ocorrem apenas na ficção. A história das mulheres iranianas é um exemplo disto – a partir da revolução islâmica em 1979, as suas vestimentas foram questionadas e, no início da década de 80, foi imposto um código de vestimentas obrigatório a estas mulheres. Nesse contexto, fica claro a fragilidade do direito feminino, descrito pela autora Simone de Beauvoir como uma concessão temporária. Com base no texto acima, escreva sobre a importância dos movimentos feministas para a sociedade brasileira e a manutenção dos direitos das mulheres.

    Apesar das inúmeras lutas e conquistas das mulheres nos últimos tempos, é alarmante a situação em que o Brasil se encontra em relação a violência, objetificação, feminicídio e inferiorização da mulher. Infelizmente ainda vivemos em um país patriarcal e extremamente machista, onde os direitos das mulheres são desprezados e mortes e mais mortes são arquivadas e esquecidas. A luta pela equidade de gênero é um marco histórico em todo mundo, entretanto, motivo para chacota pela sociedade. Os movimentos feministas enfatizam o direito ao mínimo em que uma mulher deveria receber: saúde, apoio, respeito, salários compatíveis com suas funções e não com o seu gênero. Mesmo que ainda hoje tenham projetos de leis esdrúxulas como o Projeto de Lei nº 5096/2013 de autoria de Eduardo Cunha, que visa dificultar mais ainda o acesso ao aborto seguro em casos de estupro, há também conquistas memoráveis. Entretanto, sem o movimento feminista e a luta de todas as mulheres, nada que conquistamos até hoje seria possível. Por mais que tenhamos conquistado ⅓ dos nossos direitos, muitas ações, projetos políticos, movimentos sociais ainda precisam ser reajustados para que o respeito e a equidade paire entre a sociedade e que todos tenham os mesmo direitos e reconhecimento.

    4. Segundo Alexandra Gurgel (conhecida pelo perfil @alexandrismos), em matéria para a Revista Trip - Uol, “quando a gente pensa na nossa sociedade, que é patriarcal, percebemos que o machismo é a raiz do problema. Os homens veem a mulher como objeto e como algo a ser possuído. A mulher tem que ser subjugada ao homem e o olhar que importa é aquele do homem sobre ela. Essa pressão existe de qualquer jeito, a pressão para ser perfeita. Há um padrão para ser seguido e quem se aproxima mais dele é mais bonito”. A partir dessa afirmação, nota-se que, de um lado, a mulher feminista luta contra a imposição desses padrões sobre o corpo das mulheres, e, por outro lado, ela mesma sofre essas imposições sobre o seu corpo, recorrendo, muitas vezes, a tratamentos estéticos ou cirurgias plásticas para se aproximar desses padrões. Isto posto, considera-se que, em geral, essas mulheres são julgadas, por diferentes grupos, tanto quando lutam, quanto quando cedem aos padrões de beleza. Como criar uma rede de apoio e acolhimento para que haja maior acolhimento e compreensão entre as mulheres independente de suas escolhas pessoais?

    A corrida pela padronização da beleza é algo doloroso, não somente físico, mas também psicológico. A busca incessante pela perfeição, pelo corpo perfeito, pelos padrões estéticos desejados, varia de geração para geração. Contudo, em pelo século XXI o que mais se vê são mulheres lindas atordoadas com pequenas imperfeições em seus corpos. As redes sociais, por mais benéficas que sejam em sua maioria, muitas vezes são um ambiente tóxico e deprimente. Com a pandemia pôde-se acompanhar nos jornais a alta procura por procedimentos estéticos devido à utilização exagerada de filtros em apps como Instagram, Snapchat, TikTok, entre outros. Com isso, presencia-se também movimentos feministas virtuais que cresceram descomunalmente como a hastag body positive sendo enfatizada pela brilhante Alexandra Gurgel. Uma das redes de apoio criada pela influencer é o perfil @movimentocorpolivre, no Instagram, que atualmente conta com mais de 400 mil pessoas. Não é necessário muito para criar uma rede de apoio, tudo que precisamos é de respeito, compreensão, entender seu lugar de fala, apoiar, incentivar e motivar pessoas.

    5. A partir de sua experiência, qual mensagem de motivação, força e empoderamento você poderia deixar para nossas estudantes, servidoras e mulheres da comunidade local?

    Entendo sua dor, entendo as dificuldades em que muitas mulheres vivem todos os dias e o que passamos em nossos lares, ambientes de trabalho, relacionamentos, ao andar na rua, ao respirar, ao existir. Entendo que exista dentro de si uma vontade enorme de desistir, até porque seria mais fácil, não teríamos que nos preocupar com o amanhã. Mas sabemos também a força que temos dentro de nossos corações. Então, antes de pensar em jogar tudo para o ar, levante-se, pegue um copo d’água, respire fundo e erga a cabeça, pois mesmo achando que não, sempre vai existir uma pessoa que se inspira em você todos os dias. Você não está só, entenda isto! Existe a sua volta uma rede de mulheres fantásticas com caminhões repletos de amor e compreensão para lhe abraçar, apoiar e incentivar sempre que possível. Caso você não tenha esse amparo, existem hoje projetos fabulosos onde você pode trilhar o seu caminho e encontrar uma rede de apoio incrível – foi o que eu fiz. Participo do projeto Meninas Digitais no Cerrado e fico imensamente feliz em poder contribuir para o acolhimento e ensino de outras mulheres que, assim como eu, visam um mundo melhor, com mais respeito, oportunidades e empatia.

     

     

    Equipe do Boletim IF em Movimento

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