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2021

  • Divulgados editais para eleições de coordenadores de curso

    Há 05 vagas disponíveis, para cursos técnicos, de bacharelado e licenciaturas. Candidaturas começam dia 28 de janeiro

  • Edital Serviço de Condução Veicular e Aviso de Licitação

    Publicado retificação do Edital - Serviço de Condução Veicular 
    Pregão Eletrônico nº12/2023

  • Entrevista com Keira Jacquart para o Dia da Visibilidade Trans (Boletim IF em Movimento mar/21)

    Em 29 de janeiro comemora-se no Brasil o Dia Nacional da Visibilidade Trans e para entendermos um pouco mais sobre o assunto, convidamos a Keira Jacquart para escrever um texto autobibliográfico, e dentro uma perspectiva poética, sobre a vida de uma mulher trans. Keira Jacquart nasceu na Bélgica. Ela é cantora, modelo e transativista, com foco em temas como “Vidas Trans Negras Importam”. Durante sua transição, ela encontrou pessoas marcantes que a inspiraram e moldaram sua vida. “Todos merecemos viver a vida completamente e sermos vistos como somos”. Como metáfora ela diz: “Transicionar de uma lagarta para uma linda borboleta que bate suas asas em um mundo livre.”

     

     

    História de vida de Keira Jacquart:

    Deixe-me apresentar Senhorita Keira Jacquart em três palavras: sonhadora, visionária e criativa. Isso definitivamente soa como Peixes, certo?

    Desde que me lembro, sempre me senti presa no corpo errado, enquanto calçava as botas da minha mãe e dançava uma das músicas das Spice Girls. Sim, Posh Spice ainda é meu nome do meio até hoje. Eu definitivamente era uma ‘Wannabe’[1] em todos os sentidos da palavra; Eu queria usar o pequeno vestido Gucci da Sra. Beckham.

    Eu teria arrancado de suas mãos, mas mais uma vez a violência não é a solução, a qual, infelizmente, hoje em dia, muitos indivíduos transgêneros de cor têm que lidar; estupro, assassinato, ser renegado por sua família ou mesmo pela sociedade.

     

    Havia duas coisas que eu queria ser quando era mais jovem: professora em uma escola, porém logo percebi, depois de um ano estudando na Universidade de Ghent, em 2012, eu não tinha a paciência nem o interesse em ensinar adolescentes com uma atitude difícil, sim, bem-vindo ao século 21.

    Eu também queria me tornar uma Spice Girl, mais uma vez me recusei a fazer parte da turnê de reunião em 2019, por causa da minha marca de moda de sucesso.

    Cantar é com certeza uma das minhas paixões, ao lado de fazer compras, assistir a desfiles de moda e meu amor por maquiagem. Vamos adicionar minha loucura por comida e por passeios pelas cidades da Europa, que tentei fazer a cada três meses. Adeus poupança...

     

    Que época mágica foi viver nos anos 90, de Xena, a Princesa Guerreira, às irmãs Halliwell da WB ‘Encantada’.

    Eu sempre me vi como uma garota com um grande amor por tudo que brilhava, de usar esmalte de unha da minha mãe no meu dedinho, até me sentir desconfortável por ter que me trocar no vestiário dos meninos com meninos, eca, certo? Sempre senti a necessidade de me cobrir e isso era pura tortura para minha alma inocente.

     

    Quando eu tinha cerca de seis anos, tivemos que nos desenhar da maneira como nos víamos. Lembro-me nitidamente daquele desenho que eu era uma garota com um vestido rosa, sim, um vestido rosa como a Barbie.

    Para mim, isso foi completamente normal e eu, quando olho para trás, acho que foi quando Keira já entrou em cena, ela estava sorrindo e brilhando como a Sininho.

     

    Sinto que Kevin (meu apelido morto, como dizem na comunidade transcomunitária) e Keira são entidades completamente diferentes.

    Kevin era uma criança muito sensível, que sofria bullying porque tinha modos e interesses muito femininos, aos quais os meninos podiam facilmente se sentir alienados.

    Tive a sorte de ter sido abençoada com uma rica imaginação, de onde pude escapar da vida cotidiana e de todas as vantagens e desvantagens que vêm com isso.

    Minha cor favorita era o amarelo, sim, a Power Ranger Amarela chamada Trini. A atriz Thuy Trang era originária do Vietnã e era uma jovem bonita e vibrante.

    Senti uma ligação estranha com a personagem, porque mais uma vez ela tinha um comportamento masculinizado, embora era uma menina. Um lugar seguro, pensei assim.

    Obcecada por essa cor, mas temerosa por vespas e abelhas: a ironia de tudo isso.

     

    Eu não gostava de ir à escola porque essas pessoas tornaram minha vida na escola um inferno. O efeito psicológico veio muito mais tarde, quando cheguei ao ensino médio. Ter que lidar com ataques de pânico, ansiedade e dismorfia de gênero, que eu não aceitei e bloqueei, até que explodiu mais tarde na minha cara. Em um transtorno alimentar, chamamos de anorexia.

     

    Para mim, pessoalmente, não tinha nada a ver com a comida, eu sentia que era mais com a mudança do meu corpo e nos pelos corporais, que eu ainda em qualquer corpo humano não acho atraente.

    Eu precisava de controle, mas como, querida Keira, você espera se controlar se nem mesmo aceita a mulher que é?

    Sim, uma mulher, talvez não nascida biologicamente, mas me senti como uma mulher. Pelo menos a Keira que ficou presa em uma gaiola, sem ter para onde correr, além de ver uma jovem perdendo sua energia vital e sua família vendo uma pessoa sendo dilacerada.

    Eu não dormia nada durante a noite, me sentia extremamente cansada e com frio, mas também minhas emoções pareciam entorpecidas.

    Ter 17 anos e ter que lidar com um transtorno alimentar, do qual meus pais e eu não sabíamos de onde vinham as raízes.

    Lembre-se daquela criança inocente sendo intimidada e não tendo o direito de se expressar em sua verdade. É de onde veio e onde começou a se tornar uma bomba-relógio.

     

    Em 2013, conheci Chris del Anno e Nathan Lassyri. Lembre-se das adolescentes com atitude também conhecidos como as Meninas Superpoderosas.

    Eu provavelmente teria sido Blossom, a líder e a garota feminina do grupo. Você também poderia dizer que eu seria o maníaco por controle ou gerente de RP, por causa de minha mente de negócios e minha personalidade destemida, nos conectamos com produtores, empresários, treinadores de canto, coreógrafos e a lista continua...

     

    Entrei em contato com Chris e Nathan nas redes sociais e queria criar um grupo musical. Chamamos a nós mesmos no início de Magenta Blue, não me pergunte o porquê, mas acho que as duas cores representavam feminilidade e masculinidade. Eventualmente, nos chamamos de DAMORE.

     

    Então, nos conhecemos em agosto de 2013. Naquele dia eu estava usando um blazer cinza com calça da mesma cor, porque Srta. Jacquart é tudo sobre bloqueio de cores. Tinha uma coisa com gola rolê, ainda hoje meu armário está cheio desse modelo de roupa. Sempre achei que precisava estar no meu melhor e estar pronta para a passarela.

    Na verdade, eu e Nathan estávamos no mesmo trem para Ostend. Ele tinha um cabelo amarelo brilhante como do Bob Esponja, lentes de contato castanho-avelã, um colar com um pinjente do símbolo da paz e uma blusa de leopardo cinza. Sua energia era avassaladora e eu senti um eco de ‘Girl Power’ em minha cabeça. Senti imediatamente o calor da voz de Nathan, uma voz de alma muito baixa e sua risada era agradável.

    Conversamos por alguns minutos antes de nosso trem chegar e então fomos nos encontrar com Chris e sua "suposta" sobrinha...

    Chris estava calmo e controlado, um grande contraste com nossas futuras reuniões. Chris é a vida da festa e ele adora cantar, uma voz muito poderosa, na minha opinião. Naquele dia de agosto, ele estava usando um gorro cinza e uma camiseta lisa com listras horizontais pretas e brancas. Chris tinha apenas dezesseis anos naquela época, Nathan tinha 19 e eu cerca de 22. Éramos bebês, inocentes e um pouco ingênuos. Mas tínhamos fogo em nós e queríamos mudar o mundo para melhor.

    Acho que foi nesse momento que voltei para casa e senti que conheci minha segunda família.

     

    Namorar como uma mulher trans também traz desafios. Sinto pelos homens que têm uma “atração por trans” sem que seja um fetiche, mas que estão alinhados com sua própria sexualidade.

    Homens heterossexuais são atraídos por mulheres trans, não por homens gays. Acho que na comunidade gay todos se resumiam a ser extremamente masculinos, em forma e altos.

    Muitos desses homens não têm as ferramentas para lidar com essa atração. Eles estão sendo julgados ou colocados em uma caixa.

    Por outro lado, também há homens que chamamos na gíria: homens baixos. Eles só querem ter uma relação sexual com mulheres trans, sem que sejam vistos com elas em público.

    Infelizmente, porque muitos homens não conseguem se expressar, eles às vezes matam essas mulheres trans por quem se sentem atraídos. Esse é definitivamente o caso de muitas mulheres transexuais negras.

     

    Gostaria que houvesse alguma informação para crianças ou indivíduos que lidam com dismorfia de gênero.

    Lidando com as lutas internas e expressando isso para uma sociedade, onde os indivíduos trans estão sendo marginalizados ou demolidos, apenas por viverem suas vidas em sua verdade.

    Então, eu senti que vivi a vida por boas duas décadas em um piloto automático, infelizmente isso ainda é a realidade hoje para as pessoas sobreviverem, não viver, mas sobreviver.

    Um grande contraste onde estou hoje. Keira é uma jovem confiante, com um futuro brilhante pela frente, porque ela nunca será uma vítima da sociedade ou de pessoas que jogam suas inseguranças nela.

    Ela é uma Rainha das Divas e uma guerreira porque, às vezes, eu sinto que o mundo ainda não está abraçando totalmente indivíduos trans ou não binários.

     

    Eu sempre digo às pessoas que ser uma mulher transgênero é uma bênção e uma maldição ao mesmo tempo. Em muitos níveis, posso entender a definição de discriminação ou fobia, porque ser você e viver sua vida de acordo com sua visão traz desafios. Ser encarado como fora dos padrões de gênero ou mesmo heterossexual por não saber como se comportar em um lugar público ou em um ambiente de trabalho, imagine ser perseguido como um homem gay.

    Também sinto que é uma maldição não poder ter filhos com quem amo e receber um presente dado por Deus.

    É uma constatação que fiz quando fiz a transição, não sabia se tinha a ver com os hormônios que corriam pelo meu corpo ou simplesmente com a idade. Talvez seja uma mistura dos dois.

    Eu tinha esse sentimento de mãe e queria ter filhos com um homem que amo, com toda a minha essência.

     

     

    ORIGINAL:

    Keira Jacquart life story:

    Let me introduce ms Keira Jacquart in three words: dreamer, visionair and creative. That definitly sounds like a Pisces, right?

    From as young as I can remember I have always felt trapped in the wrong body, while I was putting my moms boots on and dancing on one of the songs of the Spice Girls. Yes Posh Spice is still to this day one my middle name. I definitly was a ‘Wannabe’ in every sense of the word; I wanted to wear the little Gucci Dress from ms. Beckham.

    I would have ripped it off of her hands, but yet again violence is not the solution, in which saddly enough tot this day a lot of transgender individuals of colour have to deal with; rape, murder, being disowned by their family or even society.

     

    There were two things I wanted to become when I was younger: a teacher in a school, in which I soon realized after a year studying on the University of Ghent in 2012: I didnt have the patient nor the interest in teaching teenagers with an attitude, yes welcome to the 21st century.

    I also wanted to become a Spice Girl, yet again I refused to be part of their reunion tour in 2019, because of my quote-on-quote succesfull fashionbrand.

    Singing is most definitly one of my passions, next to shopping, attending fashionshows and my love for make-up. Lets add my foodorgasms and citytrips in Europe, that I tried to do every three months. Goodbye saving accounts…

     

    What a magical time it was to live in the nineties from Xena the Warrior Princess to the Halliwell sisters of the WB ‘Charmed’.

    I always saw myself as a girl with a big love of everything that sparkled to wearing nail polish from my mom on my little pinky to feeling uncomfortable having to change in the boys lockerrooms with boys, yuck right? I always felt the need to cover myself up and that was pure torture for my innoncent soul.

     

    When I was around six years old we had to draw ourselves with how we look at ourselves. I remember vividly from that drawing that I was a girl in a pink dress, yes a pink dress like Barbie.

    For me this was completely normal and I when I look back on it. I think thats when Keira already  stepped in, she was smiling and glowing like Tinkerbell.

     

    I feel that Kevin (my deadname as they say in the transcommunity) and Keira are completely different enthities.

    Kevin was a very sensitive child, that got bullied because he had very feminine manners and interests in which boys could easily feel alienated from.

    I was lucky to have been blessed with a rich imagination where I could escape everyday life and all the perks and the lows that come with that.

    My favorite colour was yellow, yes the Yellow Power Ranger called Trini. The actress Thuy Trang was originally from Vietnam and she was a beautiful vibrant young woman.

    I felt a weird connection with the character, because yet again she had a boyish behaviour, she was still a girl. A safe place I thought so.

    Obsessed with this colour, but fearfull for wasps and bees: the irony of it all.

     

    I didn’t like going to school because these individuals made my life on school hell. The psychological effect came way later when I hit Middle School. Having to deal with panic attacks, anxiety and gender dysmorphia that I didnt accept and blocked, until it exploded later in life in my face. In an eating disorder we call anorexia.

     

    For me personnally had nothing to do with the food, I felt it was more with my body changing and bodyhair, that I still in any human body find not appealing.

    I was in need of control, but how dear Keira do you expect to control yourself if you don’t even accept for the woman you are?

    Yes a woman, maybe not born biologically, but I felt like a woman. Atleast the Keira that got trapped in a cage, with not where to run besides seeing a young individual losing her life energy and her family seeing someone being teared apart.

    I didn’t sleep at all during the night, felt extremely tired and cold, but also my emotions felt numbed.

    Being 17 and having to deal with an eating disorder, where both my parents and I didn’t knew where the roots came from.

    Remember that innoncent child being bullied and not having any right to express him/herself in their truth. Thats where it came from and where it started to become a ticking timebomb.

     

    In 2013 I met Chris del Anno and Nathan Lassyri. Remember the teenagers with attitude aka the Powerpuff Girls.

    I probably would have been Blossom, the ringleader and the girly girl of the group. You could also say the control freak or PR manager, because of my business mind and my fearless personality we connected with producers, managers, singing coaches, choreographers and the list goes on...


    I contacted both Chris and Nathan on social media and wanted to make a musicgroup. We called ourselves in the beginning Magenta Blue, don’t ask me why, but I think the two colours represented femininity and masculinity. Eventually we called ourselves DAMORE.

    So we met somewhere in August 2013. That day I was wearing a grey blazer with the same colour pants, because ms Jacquart is all about colour blocking. I had a thing with turtlenecks, still do this day my closet is full of it. I always felt I had to look my best and be runway ready.
    Actually me and Nathan where on the same train to Ostend. He had this bright yellow hair spongebob hair, hazelbrown contact lenses, a peacesign necklace and a grey leopard pull. His energy was overwhelming and I felt an echo of ‘Girl Power’ in my head. I felt immediately the warmth of Nathan’s voice, a very low soul voice and his laugh was pleasant.
    We talked for a couple of minutes before our train arrived and then we went to meet up with Chris and his ‘allegedly’ niece...

     

    Chris was calm and collected, a huge contrast with our future meetings. Chris is the life of the party and he loves to sing, a very powerful belting voice I presume. That August day he was wearing a grey beanie, had a plain t shirt with black and white horizontal stripes. Chris was only sixteen in that time, Nathan was 19 and I was around 22. We were babies, innocent and a bit naïeve. But we had fire in us and wanted to change the world for the better.
    I think that was the moment I came home and felt I met my second family.

     

    Dating as a transwoman comes with it challenges also. I feel for the men that do have a “transattraction” without it being a fetisj, but then being inline with their own sexuality.

    Straight men are attracted to transwomen, not gay men. I feel that in the gaycommunity it was alla bout being extremely masculine, fit and tall.

    A lot of these men don’t have the tools to go through life with this attraction. They are being judged or put into a box.

    On the otherside there are also men that we call in slang: down low men. They only want to have a sexual relationship with transwomen without them being seen with them in public.

    Saddly enough because a lot of men can’t express them, they at times murder these transwomen they are attracted to. That’s definitly the case for a lot of Black Transwomen.

     

    I wish that there was any information for children or individuals that deal with genderdysmorphia.

    Dealing with the internal struggles and expressing this to a society where trans individuals were being marginalized or demolished, for just living their life in their truth.

    So I felt I lived life for a good two decades on a automatic pilot, saddly enough this is stil lto this day reality for people to survive, not live, but survive.

    A huge contrast where I stand today. Keira is a confident young woman with a bright future ahead of herself, because she will never be a victim of society or people that throw their insecurities at her.

    She is a Queen of Divas and a warrior because at times I feel that the world still isnt fully embracing of trans or non binary individuals.

     

    I always tell people being a transgendered woman its a blessing and a curse at the same time. On so many levels I can understand the defintion of discrimination or phobia, because being you and living your life in your vision comes with challenges. From being misgendered, stared at or even heterosexual men not knowing how to conduct themselves in a public place or in a workplace environment, imagine if they would pursue him as a gay men.

    Its also a curse I feel. To not have children with someone I love and to receive a gift God gives you.

    Its a realization I made when I transitioned, didn’t know if it had to do with the hormones rushing through my body or just simply age. Maybe it’s a mixture of the two.

    I had this motherfeeling and I wanted to have babies with a man I love with my whole essence.

     

    [1] Música do grupo Spice Girls, expressão pode ser traduzida como “quer ser”, no sentido do que se espera para o futuro.

     

     

    Tradução por: Mirelle Amaral de São Bernardo

    Boletim IF em Movimento
    Campus Ceres

  • Especialização em Formação de Professores tem inscrições abertas

    Curso de pós-graduação é gratuito e oferta 40 vagas. Interessados podem se inscrever até 19 de fevereiro de 2021

  • Especialização primogênita do Campus Ceres tem seu primeiro artigo publicado

    Trabalho que versa sobre os desafios do ensino de matemática é indicador da importância do curso como espaço criativo e de refazimento das estratégias de ensino

  • Estudantes podem receber kits alimentação durante aulas remotas

    Clique para ver os requisitos

  • Estudo do Campus Ceres busca avanços para o tratamento de tumores

    Confira a entrevista realizada pelo projeto IF na Cidade com a coordenadora do projeto, Beatriz Nogueira

  • Eventos

    Os eventos do Campus Ceres são, em geral, cadastrados no sistema https://eventos.ifgoiano.edu.br/. Para que isso ocorra, é necessário que o proponente preencha o formulário de cadastro específico de eventos, clicando aqui. Uma vez preenchido e assinado, o formulário deve ser encaminhado para o e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.. O coordenador do evento deve atentar-se ao prazo disponível de atendimento do chamado no Suap (15 dias úteis), para divulgação na página e abertura para inscrições.

    Depois de realizado o evento, o coordenador deverá preencher o relatório final, disponível aqui, e, estando ele preenchido e assinado, encaminhá-lo para o e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo., junto à lista de frequência.

     

     

    Gerência de Extensão/ COMUNICAÇÃO SOCIAL Campus Ceres
    (Atualizado em 29.01.2024)

  • Feira Literária do Vale do São Patrício começa em 05 de julho

    Evento, que será realizado de forma virtual, recebe inscrições até 04 de julho

  • Forrageira de alta produtividade é fruto de estudos no Campus Ceres

    Estudantes dos três níveis de ensino têm desenvolvido projetos envolvendo a cultivar BRS Capiaçu, desenvolvida pela Embrapa e que chega a produzir 80 toneladas anuais por hectare

  • Gaudêncio Frigotto irá ministrar aula inaugural do ProfEPT

    Solenidade será transmitida ao vivo e marca o início oficial das aulas do mestrado em Educação Profissional e Tecnológica no Campus Ceres

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  • Homenagem póstuma

    Faleceu neste domingo, 26 de dezembro, o professor Welington de Arruda Passarinho, diretor do Campus Ceres entre 2004 e 2008

  • IF Goiano lança editais para mestrado e doutorado

    São disponibilizas 10 vagas para o mestrado em Irrigação no Cerrado, do Campus Ceres, além de outras para diversas áreas em outras unidades da Instituição

  • IF Goiano lança edital para mestrados e doutorado

    Inscrições poderão ser feitas de 27 de julho a 13 de agosto, para ambos os editais

  • IF Goiano lança Programa de Residência Profissional Agrícola

    Iniciativa tem o objetivo de qualificar recém-egressos de ciências agrárias por meio de treinamentos práticos e supervisionados

  • IF Goiano planeja retomada das atividades presenciais

    Portaria divulgada nesta quarta-feira, 22 de setembro, autoriza e normatiza o retorno. Equipe gestora fará transmissão para esclarecer e tirar dúvidas de servidores na sexta-feira, 24

  • IF Mais Empreendedor: divulgado resultado preliminar

    Interessados em interpor recurso têm até às 12h do dia 11 de maio. O projeto abre oportunidade para estudantes se aproximarem do mundo corporativo

  • IF Mulheres (entrevista completa do Boletim IF em Movimento - jun/21)

    Criado em 2020 para este Boletim, o IF Mulheres é um espaço destinado a divulgar as ações de mulheres do IF Goiano. Tendo em vista que, como frutos de uma sociedade machista, na qual a violência contra a mulher – física, verbal ou emocional – é naturalizada, elas possuem várias desvantagens sociais. Então, esta seção se configura como um espaço de luta contra a institucionalização das violências e um espaço de referência e sororidade para as nossas estudantes, servidoras e mulheres da comunidade local. Na abordagem dessa edição, realizamos entrevistas com três mulheres, que desafiaram as imposições sociais de suas épocas e vivem como mulheres à frente do seu tempo, encarando o machismo e lutando contra toda ação limitadora às suas potencialidades.

    Tema: Se chorei ou se sorri, o importante é que eu sobrevivi!

    A equipe desta ação agradece o espaço permitido pelos nossos gestores, trabalhamos juntos para o crescimento da nossa instituição.

     

    Entrevistada: Mirelle Amaral de São Bernardo

    Descrição profissional: Doutora em Linguística pela Universidade Federal de São Carlos, mestre em Linguística Aplicada pela Universidade de Brasília (2011) e graduada em letras (Português/Inglês) pela Universidade Estadual de Goiás (2003). Atualmente, professora de Inglês/Português - INSTITUTO FEDERAL GOIANO - CAMPUS CERES. Docente permanente do programa de Mestrado em Educação Profissional e Tecnológica (ProfEPT). Atua principalmente nos seguintes temas: Português como Língua Estrangeira (PLE); Português como Língua de Acolhimento (PLAc); Ensino Crítico de Línguas Estrangeiras; Ensino de Inglês como Língua Estrangeira.

    1. Como você reflete sobre o papel das mulheres no passado, na luta pela causa feminina? Considere, também, em sua reflexão, as suas próprias vivências e a forma como o mundo mudou durante a sua jornada.

    O início da história de luta das mulheres e do surgimento do feminismo é branco e de classe média. Essas eram as características das mulheres que começaram a luta por igualdade de direitos sociais. Mulheres que lutavam pelo direito de entrar no mercado de trabalho, votar, tinham em suas casas servidoras domésticas negras sem direitos trabalhistas e que eram, de certa forma, excluídas das lutas feministas.

    No entanto, mais recentemente, entendemos que a revolução feminista só acontecerá quando garantirmos que “todas nossas irmãs, independentemente da classe social, assim como todos nossos irmãos, subam conosco” (DAVIS, 2017).

    Contudo, nós, mulheres e homens, ainda precisamos entender o que é o femismo e as lutas femininas pela equidade de gênero. Só conseguiremos atingir uma sociedade mais justa por meio da coletividade e das discussões que clareiem o que realmente precisa ser feito. Tenho me dedicado a ler e compreender melhor o feminismo e tento, seja nas minhas relações sociais reais ou virtuais, conversar, compartilhar e discutir o assunto com meus pares.

    2. Você faz parte de uma geração em que é muito cobrado da mulher o cuidado do lar, principalmente quanto à maternidade, contudo você se mostrou uma mulher à frente do teu tempo, que lutou contra esta imposição social e traçou uma carreira profissional bem sucedida. Como foi se consolidar no ambiente de trabalho e lidar com as cobranças sociais acerca do cuidado familiar?

    Apesar de ter conseguido me realizar profissionalmente e ter independência financeira, isso só foi possível porque conto com privilégios dos quais muitas companheiras não podem contar. Sempre tive uma rede de apoio e pude contar com minha família, tanto financeiramente inicialmente, quanto com a colaboração de pessoas que me ajudaram a cuidar dos meus filhos para que eu pudesse estudar e trabalhar.

    O tema da ‘rede de apoio’ é um dos que considero mais importantes quando nos referimos à maternidade. Mulheres não vão deixar de ser mães, mas precisamos ressignificar os papéis dentro do processo de ‘maternar’, além de discutir a importância da atuação do Estado nesse processo.

    3. O conto da aia, de Margaret Atwood, é um romance fictício que se passa num futuro muito próximo na república de Gilead (anteriormente era os Estados Unidos da América). Nessa república não existem mais jornais, revistas, livros nem filmes e as universidades foram extintas. O Estado é teocrático e totalitário e as mulheres são as vítimas preferenciais, anuladas por uma opressão sem precedentes numa sociedade onde elas perderam todos os seus direitos. Infelizmente, retrocessos como este não estão apenas na ficção, a história das mulheres iranianas é um exemplo disto, a partir da revolução islâmica em 1979, as suas vestimentas foram questionadas e no início da década de 80 foi imposto um código de vestimentas obrigatório a estas mulheres. Neste contexto, fica claro a fragilidade do direito feminino, descrito pela autora Simone de Beauvoir como uma concessão temporária. Com base no texto acima, escreva sobre a importância dos movimentos feministas na sociedade brasileira.

    A participação das mulheres nas revoluções e nos movimentos sociais tem sido omitida desde sempre, principalmente no que se refere ao papel das mulheres negras e das mulheres da classe trabalhadora. No entanto, sabemos que a cada crise, a cada situação de perigo, são as mulheres e as “minorias” as primeiras a perderem direitos e serem colocadas às margens. Os programas sociais e de distribuição de renda são os primeiros a serem considerados onerosos ao Estado, em situação de crise e, com isso, as mulheres, principalmente as mulheres negras periféricas, são as primeiras a serem atingidas.

    Dessa forma, sabemos que os movimentos de luta feministas devem seguir firmes, mesmo depois de algumas conquistas importantes. Nós temos sido uma agência política também na luta por outras questões, como movimentos para mudanças socioeconômicas, ambientais, anticolonialistas, entre outros. E temos mostrado nossa força pela organização, porém não podemos esmorecer. A luta está só começando.

    4. No seu ponto de vista, qual é o maior legado que as mulheres desta geração podem deixar para as futuras mulheres que habitarão o nosso planeta.

    O legado mais importante dos últimos anos dos movimentos feministas foi o reconhecimento da Interseccionalidade. Por isso, uso o plural quando me refiro aos feminismos ou movimentos feministas. Não que eles estejam divididos ou aconteçam separadamente, mas porque todas as mulheres têm que ser envolvidas e sentirem-se parte dos ideais e das lutas. Ângela Davis, num encontro internacional sobre feminismo negro e decolonial em Cachoeira - BA, defendeu o poder de transformação da mobilização dizendo: "Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela (...)."

    5. A partir de sua experiência, qual mensagem de motivação, força e empoderamento você poderia dizer para nossas estudantes, servidoras e mulheres da comunidade local?

    Principalmente que só há revolução com luta coletiva. Podemos e devemos melhorar individualmente, tentando aprender mais, entender melhor, conhecer mais profundamente o feminismo, porém precisamos estar mobilizadas coletivamente para que a revolução aconteça. Seguimos juntas! Nem uma a menos!

     

    Entrevistada: Miriam Lucia Reis Macedo Pereira

    Descrição profissional: Mestre em Ciências da Educação Superior pela Universidade de Havana (2013). Especializações em: Educação Profissional na Formação EJA (CEFET-MG); Ciências Sociais (UFG); História do Brasil Contemporâneo (Uni Evangélica); Metodologia do Ensino (Uni Evangélica); Graduada em Pedagogia (UCMG) e em Direito (Uni Evangélica). Trabalha no Instituto Federal Goiano - Campus Ceres como Coordenadora de Apoio Pedagógico (CAPTG), Coordenadora do Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas (NAPNE). Atuou como professora e coordenadora da área de Ciências Sociais do Curso de Pedagogia na Uni Evangélica. Ministrou aulas nos Cursos Superiores de Pedagogia e Educação Física da Universidade Estadual de Goiás; Curso de Letras - Uni Evangélica e no Curso de Direito da FACER. Trabalhou como professora dos Cursos Técnicos Integrados ao Ensino Médio no Instituto Federal Goiano - Ceres. Tem experiência nas áreas de Educação, Educação de Jovens e Adultos; Sociologia, História, Diversidade Cultural, Didática Avaliação e Políticas Públicas. Participou dos projetos de pesquisa da CAPES: Observatório de Educação de Jovens Adultos - OBEDUC e participa dos Grupos de Pesquisa, Saúde, Epidemiologia e Bioengenharia e Sujeitos da Educação no Instituto Federal Goiano e seus Impactos.

    1. Como você reflete sobre o papel das mulheres no passado na luta pela causa feminina? Considere, também, em sua reflexão, as suas próprias vivências e a forma como o mundo mudou durante a sua jornada.

    O papel da mulher, quando voltamos ao passado, traz a função de um ser destinado à procriação e para agradar o homem. Durante muitos séculos, a história registra a discriminação da mulher em relação ao homem, a submissão silenciosa, sem voz e sem direitos. Ao conceder aos homens o direito e a condição de donos do saber, da autoridade e às mulheres o papel feminino, sexo frágil, subordinado ideologicamente ao poder masculino, a história vem salientar as desigualdades.

    A partir deste contexto, no caminhar da história, é importante compreender que muitas mulheres desafiaram as estruturas sociais, enfrentaram os preconceitos, lutaram pelos seus direitos, pela igualdade, propiciando o desenvolvimento e uma nova percepção para sociedade, em relação ao papel da mulher, que além de ser feminina, tinha a condição de ter sua identidade individual, seus direitos, fazer suas escolhas e, participar ativamente de outras funções como trabalho fora de casa, política, educação, além de ser mãe, dona do lar e da função de esposa.

    Ao pensar na minha história, na minha infância e no caminhar da minha vida, posso descrever que vivenciei uma vida de preconceito e desigualdade social. Nasci em uma família extensa, de oito filhos. Minha mãe não tinha o primário completo. Cuidava do lar e dos filhos. Meu pai fez o curso de Teologia e trabalhou como funcionário público. Nasci com uma deficiência física, congênita, na perna esquerda e desde os dois anos passei por diversas cirurgias, para poder andar sem usar muletas.

    Minha vida, devido às circunstâncias da minha deficiência, foi marcada pela segregação e pelo preconceito. Fui considerada incapaz de ter uma vida social ativa e profissional. Minha família, a partir de suas condições, me deu amor e todo apoio que puderam. Neste contexto, desde jovem, busquei lutar pelos meus direitos. Não aceitava desrespeito. Buscava, através dos estudos, aprimorar minha inteligência, habilidades e lutar pelo direito de ser tratada como igual, apesar da minha diferença.

    Aprendi muito na vida. Trabalhei desde cedo, aos 14 anos, para ajudar a família. Foram anos de aprendizado. Formei-me em Pedagogia, passei em concurso municipal, estadual e fui ser professora. Trabalhei durante muitos anos em favela, onde conheci a dor, a tristeza, o desespero, a falta de uma educação que lhes dessem a condição de uma vida melhor. Trabalhar com o ser humano é surpreendente, admirável, porque quando conhecemos suas potencialidades e fragilidades, conseguimos perceber o quanto são capazes quando valorizados e tomam consciência de que podem mudar suas vidas, de lutar pelos seus direitos, e ter uma vida mais digna e produtiva.

    O mundo foi mudando. O movimento feminista surgiu com maior ênfase na década de 60 e 70 e influenciou a vida de muitas mulheres, que mostraram coragem, inteligência, capacidade e habilidade de agir e fazer acontecer e de outras sujeitos que se importavam com a luta da mulher pelo seu espaço e pelo seu direito. Apoiei o movimento e continuei lutando pelo direito da mulher, passei por muitos obstáculos à procura de acabar com o preconceito, a imposição social, a desigualdade de gênero, sexo, pela valorização do trabalho da mulher e pelos direitos individuais femininos. Passei no concurso federal e continuo na luta pelos direitos das minorias, por uma educação de qualidade, pela participação da mulher no mundo do trabalho e nas ações políticas. Acredito que juntos somos mais, portanto, temos que agir, fazer acontecer, transformar o mundo a todo momento.

    2. Você faz parte de uma geração em que é muito cobrado da mulher o cuidado do lar, principalmente quanto à maternidade, contudo você se mostrou uma mulher à frente do teu tempo, que lutou contra esta imposição social e traçou uma carreira profissional bem-sucedida. Como foi se consolidar no ambiente de trabalho e lidar com as cobranças sociais acerca do cuidado familiar?

    Viver em um mundo onde todos os dias, nós, mulheres, somos compelidas a provar para a sociedade que somos capazes de viver o trabalho familiar em conjunto com o trabalho profissional, é difícil e desgastante emocionalmente, porque ainda vivemos sob a percepção de uma sociedade onde o olhar e a autoridade masculina, ainda prevalece.

    Nestas circunstâncias, a nossa realidade é desafiadora, porque o trabalho familiar ainda não é valorizado pela sociedade, com todos os seus direitos, e quando buscamos nosso espaço de igualdade com os homens, ainda somos consideradas subversivas, que querem mudar os valores familiares, onde o homem machista tem a autoridade e a mulher deve continuar submissa, sem desejos, sem identidade. Este é um desafio contínuo, que tenho enfrentado na minha vida pessoal e no trabalho.

    Fiz graduação de Direito, que era um sonho, depois dos 50 anos, porque acredito que nunca é tarde para aprender e ajudar vidas. Ampliei meus conhecimentos para compreender como as leis podem nos ajudar a vencer nossos medos, ter nossos direitos legalmente adquiridos, sem sofrer a imposição e o domínio de grupos sociais que se consideram os poderosos, capazes de nos submeter, retirando os nossos direitos e nossa liberdade pessoal de ser o que queremos ser.

    Precisei acreditar em mim, perceber que posso aprender e reaprender quando necessário, como realizar todo o meu trabalho profissional. Vivenciei e ainda vivo com pessoas que se importam com o que fazemos no trabalho e buscam valorizar nossas potencialidades e habilidades. São colegas de trabalho, amigos, que abriram os olhares e perceberam que, apesar das diferenças significativas, todo ser humano tem potencial e pode contribuir para um trabalho mais eficiente e produtivo. Deus os abençoe!

    Aprendi que tenho que ouvir os outros, mas também expressar minhas ideias, mesmo que não sejam aceitas ou consideradas importantes, porque somos seres humanos e o diálogo e a discussão fazem parte do que somos e o que queremos ser. Busco ter coragem e lutar para enfrentar os meus medos, os meus desafios e estou aberta a mudanças, porque acredito no ser humano, no desejo do bem, do amor, da busca da felicidade.

    Para realizarmos um bom trabalho é preciso gostar do que faz e mesmo que não seja o ideal, é fundamental fazer o seu melhor. Faço o meu trabalho com amor, com desejo de acertar, buscando contribuir de forma efetiva. Tenho erros e acertos, mas isso é que é ser humano, não somos completos, vivemos aprendendo, precisamos uns dos outros, com respeito, dignidade, autonomia, sobrepujando a luta por poder, cargo, função, dinheiro, para vivermos bem, com harmonia, com nossos direitos, com as nossas individualidades, sendo reconhecidos e valorizados pelo que somos, pelo que fazemos e pelo que podemos ser.

    3. O conto da aia, de Margaret Atwood, é um romance fictício que se passa num futuro muito próximo na república de Gilead (anteriormente era os Estados Unidos da América). Nessa república não existem mais jornais, revistas, livros nem filmes e as universidades foram extintas. O Estado é teocrático e totalitário e as mulheres são as vítimas preferenciais, anuladas por uma opressão sem precedentes numa sociedade onde elas perderam todos os seus direitos. Infelizmente, retrocessos como este não estão apenas na ficção. A história das mulheres iranianas é um exemplo disso. A partir da revolução islâmica em 1979, as suas vestimentas foram questionadas e no início da década de 80 foi imposto um código de vestimentas obrigatório a estas mulheres. Neste contexto, fica claro a fragilidade do direito feminino, descrito pela autora Simone de Beauvoir como uma concessão temporária. Com base no texto acima, escreva sobre a importância dos movimentos feministas na sociedade brasileira.

    No mundo que vivemos, atualmente, ainda existem países onde as mulheres continuam sendo vítimas da opressão da sociedade masculina, que não permitem ter seus direitos, são marginalizadas, violentadas, banalizadas e consideradas parte do homem, que a submetem à sua autoridade, impondo condições de inferioridade em todos os âmbitos, culturais, sociais e políticos. Nessa realidade, podemos constatar o quanto a desigualdade social é perene e frágil é o direito da mulher.

    Na evolução da história, em diferentes países, o espaço de ação da mulher sofreu grandes impactos e foi ampliando seu poder. Mesmo sendo do lar, obrigadas a casar, a criarem filhos, servindo seus maridos, muitas mulheres conseguiram ter voz, participar de movimentos políticos, ter liberdade sexual e de gênero, fazer escolhas significativas para sua vida, sendo exemplos para outras mulheres. Portanto, realizaram grandes mudanças, desenvolvendo ideias e ações de emancipação, buscando ter igualdade social, política e cultural.

    Aqui no Brasil, ainda vivemos a desigualdade, a violência, o abuso, a marginalização e o preconceito. No entanto, muitas mulheres estão resistindo, agindo em todos os segmentos sociais, participando com garra, coragem, levando a nossa voz e nossas ideias nos movimentos políticos, culturais, econômicos e sociais, demonstrando que não estamos estagnadas.

    O caminho é longo e árduo, mas precisamos continuar lutando pelo direito da mulher, realizando ações em conjunto com os movimentos feministas, buscando o empoderamento feminino, reivindicando os direitos pela igualdade entre os gêneros nos diversos cenários da sociedade. É fundamental que todas as mulheres tomem consciência da opressão e da dominação em que vivem em relação ao homem, para que juntas lutem contra essa inferioridade imposta e preconceitos existentes. É preciso conquistar os nossos direitos, nossa independência, sem desistir, buscando viver em um mundo onde somos, na amplitude da palavra, “ iguais”.

    4. No seu ponto de vista, qual é o maior legado que as mulheres desta geração podem deixar para as futuras mulheres que habitarão o nosso planeta.

    Somos poderosas, fortes, inteligentes, temos habilidades de liderança e potencial para vencer os grandes obstáculos que a sociedade nos impõe. A nossa liberdade de ser o que queremos e poder fazer o que precisarmos, para ser feliz, é o nosso bem maior. Para isso precisamos estar empoderadas, lutar pela equidade, pela não discriminação, por uma educação de qualidade, evitando, portanto, que as futuras gerações ainda vivam em um mundo de disparidades e desigualdades gritantes. Precisamos estar juntas nessa caminhada, buscando a felicidade um do outro, enfrentando nossos medos. Unidas no mesmo ideal, podemos vencer todas as barreiras que a sociedade, ainda dominada pelo homem, nos faz viver.

    5. A partir de sua experiência, qual mensagem de motivação, força e empoderamento você poderia dizer para nossas estudantes, servidoras e mulheres da comunidade local?

    Acredito que trabalhar o empoderamento é essencial para todas as mulheres, servidoras e nossas estudantes que vivem em contexto de vulnerabilidade. Observo que, desde cedo, nossas meninas, nossas adolescentes, são levadas a pensar que são menos do que os meninos e homens e, por isso, não são consideradas importantes nem suas vozes são ouvidas.

    É fundamental que todas as mulheres possam compreender que são capazes, e que dentro de cada uma existe uma força, uma energia capaz de derrubar todos os obstáculos. Jamais pense que você não é capaz e que seus esforços são em vão. Valorize sua história, sua vida, pois rótulos não nos definem. Precisamos revolucionar, buscar e conquistar nosso espaço, com força e determinação. Como diz Simone de Beauvoir:

    Que nada nos defina,
    Que nada nos sujeite.
    Que a liberdade
    seja nossa própria substância...

    Não podemos desistir, precisamos acreditar que tudo é possível e que podemos transformar o mundo, principalmente quando lutamos com o coração!

     

    Entrevistada: Iraci Balbina Gonçalves Silva

    Descrição profissional: Pedagoga, doutora em educação pela PUC/Goiás. Anterior ao IF Goiano, atuei como professora em todos os níveis de ensino. Fui coordenadora pedagógica do “Aprendizado Marista Padre Lancísio” e da Rede Municipal de Ensino de Silvânia/Goiás. Fui professora Efetiva da Rede Municipal de Ensino de Silvânia/GO, Rede Estadual de Ensino de Goiás e Universidade Estadual de Goiás. Atuei por 13 anos como professora formadora do Proformação, Proinfantil e Profuncionário. Em 2010 iniciei como servidora do IF Goiano e em 2012 comecei a atuar na Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação.

    1. Como você reflete sobre o papel das mulheres no passado na luta pela causa feminina? Considere, também, em sua reflexão, as suas próprias vivências e a forma como o mundo mudou durante a sua jornada.

    Entendo que ser mulher significa estar em luta constante e perceber que as conquistas são frágeis e precisam de vigilância. Vivemos em um mundo em que a democracia sofre de ataques e os retrocessos podem ocorrer. É preciso reconhecer que usufruímos de conquistas de mulheres do passado. Votamos, temos carreira profissional, ocupamos cargos de poder porque mulheres ousaram a desafiar a estrutura social e política. Outras mulheres virão ocupar espaços devido à luta que travamos hoje. Na minha jornada, fico sempre tentando analisar a situação para enxergar situações de preconceitos e discriminação... aos poucos vou tendo uma visão mais clara da mulher que quero ser.

    2. Você faz parte de uma geração em que é muito cobrado da mulher o cuidado do lar, principalmente quanto à maternidade, contudo você se mostrou uma mulher à frente do teu tempo, que lutou contra esta imposição social e traçou uma carreira profissional bem sucedida. Como foi se consolidar no ambiente de trabalho e lidar com as cobranças sociais acerca do cuidado familiar?

    Uma vez fizemos uma pesquisa com mães trabalhadoras e percebemos que quando a mulher está exercendo a sua profissão, ela carrega uma dor na consciência como se ela tivesse a obrigação de estar em casa cuidando dos filhos. No meu caso, sempre acreditei que quando estudo ou trabalho estou lutando por mim, pelas minhas filhas e por todas as mulheres. Sempre tive uma compreensão macro das minhas ações, sempre pensei que um ofício, por exemplo, é mais que um papel. Representa passos para a concretização de um projeto, de um sonho, de possibilidade de construção de uma educação melhor, de um mundo melhor. Além disso, busco focar na qualidade das minhas relações. Mais que quantidade, foco na qualidade. Converso muito com minhas filhas. Procuro, mais do que vê-las, enxergá-las...

    3. O conto da aia, de Margaret Atwood, é um romance fictício que se passa num futuro muito próximo na república de Gilead (anteriormente era os Estados Unidos da América). Nessa república não existem mais jornais, revistas, livros nem filmes e as universidades foram extintas. O Estado é teocrático e totalitário e as mulheres são as vítimas preferenciais, anuladas por uma opressão sem precedentes, numa sociedade onde elas perderam todos os seus direitos. Infelizmente, retrocessos como este não estão apenas na ficção. A história das mulheres iranianas é um exemplo disso. A partir da revolução islâmica, em 1979, as suas vestimentas foram questionadas e no início da década de 80 foi imposto um código de vestimentas obrigatório a estas mulheres. Neste contexto, fica claro a fragilidade do direito feminino, descrito pela autora Simone de Beauvoir como uma concessão temporária. Com base no texto acima, escreva sobre a importância dos movimentos feministas na sociedade brasileira.

    Interessante. Acho que respondi a questão na primeira resposta. Acredito que as conquistas são frágeis, pois exigem constantes vigilâncias. O mundo está estruturado na lógica machista e discriminatória, oprimindo a minoria. Cabe a nós lutar para que seja modificado, transformado. Paulo Freire alimenta a nossa esperança: a história é construída por homens e mulheres e, por nós, pode ser transformada. Devemos sempre enxergar além das aparências, pois estão sempre tentando fomentar nas mulheres o espírito competitivo. Exército dividido é exército vencido! Precisamos identificar as amarras da manipulação e ir nos libertando... De novo Paulo Freire: As pessoas se libertam em comunhão. Por isso, precisamos criar em nós um sentimento de pertença. A neutralidade é ilusória e mantém as estruturas hegemônicas.

    4. No seu ponto de vista, qual é o maior legado que as mulheres desta geração podem deixar para as futuras mulheres que habitarão o nosso planeta.

    Acredito que nosso maior desafio e legado seja mesmo lutar por nossas conquistas e ampliá-las. Vejo a democracia cada vez mais frágil e em risco. Precisamos auxiliar as novas gerações a enxergarem a estrutura de poder e a lutarem para transformá-las. Estamos estarrecidas com a violência contra a mulher. Como isso tem se tornando uma epidemia mundial. Precisamos lutar por políticas públicas a favor das mulheres. É preciso acolher, formar, lutar pela dignidade em todas as áreas.

    5. A partir de sua experiência, qual mensagem de motivação, força e empoderamento você poderia dizer para nossas estudantes, servidoras e mulheres da comunidade local?

    Retomo Paulo Freire: cuide de sua esperança, como quem cuida de um planta. Ter esperança não significa estar estática, mas perceber que grandes mudanças são baseadas em ações cotidianas. Entenda que você não está sozinha e que você é muito importante. Compreenda que força não significa violência, mas resistência. Estude muito. Perceba que sua luta não atinge apenas a dimensão pessoal. Muitas se inspiraram em você e poderão acreditar que é possível mudar as relações (intrapessoal e interpessoal). Seja fiel aos seus princípios. Foque no tipo de pessoa que você quer ser. Erros acontecem, faça deles oportunidades de aprendizagem. Olhe com carinho para você e para sua história. Faça sempre o melhor. Acolha outras mulheres. Ocupe o seu lugar na história.

     

     

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