II Workshop de Educação do Campus Ceres discute evasão e bullying
Com mais de 500 participantes já na abertura, oficinas lotadas e plateia atenta na mesa redonda que discutiu o caso de Suzano (SP), evento se mostra maduro e com pautas pertinentes ao interesse dos educadores da região
Palestra de abertura, ministrada pelo professor Homero Reis, no Auditório do campus
Um evento jovem, que ainda engatinha, mas já supera expectativas de público e de avaliação, mostrando maturidade nos temas e atividades. Assim é o Workshop de Educação, Conhecimento e Inovação do Campus Ceres, que nestes dias 22 e 23 de março teve sua segunda edição. Projetado para ser um momento de discussão e aprendizado para professores de toda a região e para os estudantes de licenciatura do campus, o II Weci atraiu mais de 500 convidados em sua abertura, que teve presença do palestrante Homero Reis.
A fala de Reis, que pode ser conferida na íntegra no vídeo abaixo, pautou-se na relação professor estudante. O palestrante valeu-se de passagens da própria vida enquanto educando para comentar impressões retidas pelo contato com diferentes profissionais. Para ele, o exercício da docência deve despertar no estudante o interesse pelo aprendizado, e tal feito somente é possível a partir do interesse autêntico do educador em possibilitar a promoção de uma mudança de vida do estudante.
No segundo dia de evento, o Campus Ceres promoveu diversas oficinas, que trataram de temas pertinentes aos educadores de diferentes áreas. Os eventos ocorreram simultaneamente, durante a manhã do sábado, 23. Para trabalhar com o público foram convidados, em sua maioria, profissionais da própria Instituição. Ao todo foram cinco ofertas: Formação docente: o uso do lúdico na educação de surdos, com as oficineiras Leila Coutinho e Joseane Rosa, intérpretes de Língua Brasileira de Sinais, Não é mimimi - Bullying pode levar ao suicídio, com Ivanildo Gomes, Histórias de vida de professores: lugares de formação, com o docente Gustavo Ferreira, Inovação nas Tecnologias para a Educação, ministrada pela professora Jaqueline Ribeiro, e Internet segura: Fake news?!, com os mestres Adriano Braga e Ricardo Tadokoro.
Bullying e o caso de Suzano – A programação do Workshop foi finalizada com a mesa redonda Precisamos falar sobre Suzano, idealizada pela comissão organizadora após a tragédia ocorrida na Escola Raul Brasil, em Suzano, SP, no último dia 13. Para o momento foram convidados os professores Simone Firmino, mestra em Educação, o sociólogo Ricardo Tadokoro, o comandante do 16º Comando Regional da PM/ GO, coronel Wagner de Lima, e a estudante Letícia da Silva, do curso de Licenciatura em Química.
Durante a exposição, os participantes inicialmente trouxeram fatos e opinaram sobre os motivos e a forma de compreender a realidade dos ataques. Simone Firmino levantou a quantidade de massacres ocorridos no mundo nos últimos 20 anos, sendo o mais destacado o caso em Columbine, nos Estados Unidos. No Brasil, há registros em Realengo, bairro do Rio de Janeiro, RJ, em 2011, em Goiânia, GO, no ano de 2017, e agora o caso de Suzano. Ela chamou atenção para a correlação entre o comportamento e a exposição dos adolescentes e crianças a jogos e filmes de violência. Embora não haja comprovações acerca da influência direta desses conteúdos sobre os públicos, a educadora salienta que existem classificações indicativas para cada um desses produtos, e que no Brasil não há costume de seguir essas orientações.
Falando sobre jogos, a estudante Letícia da Silva, que é uma ávida consumidora dos produtos, explicou que no País existe uma instituição específica para certificar e classificar os jogos. Indo ao encontro do apontando por Firmino, salientou que os jogos mais populares entre crianças e adolescentes, como Mortal Kombat, Resident Evil e Grand Theft Auto (GTA), não são de forma alguma recomendados para esse público, o que mostra falta de acompanhamento dos pais. Na opinião da estudante, ainda que possa haver relação entre os jogos e desenvolvimento de comportamento violento, isso pode ser mitigado com educação e presença dos pais.
Letícia da Silva, Ricardo Tadokoro, Simone Firmino e Wagner de Lima, na mesa redonda Precisamos falar sobre Suzano. À direita, o docente Adriano Braga, que mediou o debate
Para o coronel Wagner de Lima, nós “temos o péssimo hábito de caçar culpados”, fazendo alusão à tentativa de culpar produtos de mídia como jogos e filmes ou buscando razões religiosas para os fatos. É preciso ter acompanhamento para prestar atenção em indícios - defende ele -, seja na escola, seja na família. O coronel afirma que dificilmente um estudante pode passar quatro ou três anos no banco da escola sem que os professores percebam uma introspecção ou necessidade de auxílio, de acompanhamento. Mas, para isso, é preciso não ignorar os sinais apresentados pelos jovens. Da mesma forma a família não pode negligenciar o acompanhamento dos filhos. Ele exemplificou que, no caso de Suzano, o responsável pelo massacre estava desde novembro planejando o ataque, reservando arsenal dentro do próprio quarto, e que os pais não se deram conta do que ocorria: “Não me entra na cabeça um filho que promete um ato terrorista, leva arma pra dentro de casa e o pai e a mãe não sabem o que tem dentro do quarto filho”.
Ricardo Tadokoro, sociólogo, propõe outra ideia de debate, ampliando a análise para levar em consideração o meio social, em vez de somente focar nos responsáveis pelos ataques. Ele chama atenção para a cultura da violência presente no País, que é tida ora como ruim, ora como necessária, conforme satisfaz aos interesses. Prova disso é o uso da violência para manutenção da escravidão, período que ocupa mais da metade de nossa história até os dias presentes e em que a violência era institucionalizada. É preciso, nas palavras do professor, pensar como nós significamos e compreendemos a violência, de forma mais macro, antes de nos concentrarmos na busca de explicações individualizadas.
Assista toda a mesa redonda e as contribuições da plateia aqui:
Ascom Campus Ceres
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