Uma profissional multidisciplinar

Para a pesquisadora, um dos grandes desafios da ciência é ampliar os espaços de discussão para que não somente TAEs, mas mulheres e também as minorias sejam ouvidas e possam mostrar seu diferencial. Foto: acervo pessoal

É possível qualificar-se mantendo suas funções administrativas? A pesquisadora Layara Alexandre Bessa, 39, garante que sim. A servidora Técnico-Administrativa em Educação (TAE) lotada no Campus Rio Verde vem construindo uma sólida carreira no Instituto Federal Goiano (IF Goiano) há 15 anos, baseada na motivação constante em buscar novos desafios, na empatia e na gratidão de encontrar nesse caminho pessoas apaixonadas por seus ofícios para se inspirar. Essa conjunção de fatores não podia ter dado mais certo.

A servidora é graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) de Morrinhos, sua cidade natal e também onde iniciou carreira no IF Goiano. Logo que assumiu a vaga como assistente em administração, achou “tudo muito novo”, mas aos poucos foi se adaptando porque encontrou na Instituição um ambiente acolhedor. Em 2010, pediu remoção para o Campus Rio Verde, onde cursou o mestrado em Ciências Agrárias – Agronomia e, na sequência, o doutorado na mesma área, fazendo parte da primeira turma do curso.

“Segui a vida acadêmica sem deixar de lado minhas obrigações e horários com os afazeres administrativos”, lembra ela. A profissional já atuou como responsável por laboratório de controle biológico, coordenação de licitação e compras e, atualmente, trabalha no gabinete do Campus Rio Verde. Mas ela concilia tudo com a docência no Programa de Pós-Graduação em Ciências Agrárias/Agronomia, orientando alunos de mestrado e doutorado.

Essa atuação nos dois segmentos trouxe à Layara a possibilidade de enxergar ambos os ofícios de maneira mais abrangente. “Ser TAE é fundamental para o funcionamento da nossa Instituição, é auxiliar em burocracias necessárias para que os estudantes tenham acesso a um ensino e pesquisa de qualidade, é ajudar o professor a ter tudo o que é necessário para conduzir as aulas e manter os projetos de pesquisa e extensão”, comenta. “Nesse sentido, orientar na pós me faz ter uma visão ampla de tudo, do quanto é difícil manter um ambiente para uma boa condução de um experimento e, ao mesmo tempo, prazeroso repassar conhecimento a outras pessoas”, complementa.

Em suma, ser TAE e orientar na pós fez a profissional entender a importância de ambos os segmentos para a Instituição. “O trabalho de um complementa o do outro e, no final, quem ganha é o IF Goiano e a comunidade”, reconhece. Essa maturidade faz com que Layara seja também inspiração para colegas técnico-administrativos. “Muitos já me disseram que o fato de eu ter conseguido me qualificar sem deixar de lado minhas funções administrativas os fizeram entender que eles também são capazes. É uma grande motivação pessoal saber que outras pessoas me veem como exemplo”, comemora.

É claro que a coragem e o perfil multidisciplinar de Layara já renderam frutos à pesquisadora. Os reconhecimentos vieram não só por meio da publicação de artigos em periódicos com altos fatores de impacto, como Frontiers in Plant Science, Frontiers in Microbiology e Environmental Science and Pollution Research, mas, também, por premiações. Em 2018, ela recebeu distinção para o trabalho de excelência no 2º Global Conference in Plant Science and Molecular Biology, em Roma, na Itália. Já em 2021, ganhou o prêmio da Publishing Company MDPI como BEST PAPER AWARDS 2020, pelo alto número de citações da publicação "Landscape and Climate Influence the Patterns of Genetic Diversity and Inbreeding in Cerrado Plant Species". Além disso, recentemente Layara foi contemplada na Chamada CNPq Nº 09/2022 - Bolsas de Produtividade em Pesquisa – PQ. “Foi uma honra muito grande ser aprovada neste edital por ser extremamente concorrido por pessoas e instituições altamente qualificadas”, comemora.

Mais que conquistas pessoais, contudo, é a satisfação de ver seus orientandos conseguindo se inserir no mundo do trabalho. “Já pude vivenciar na prática que procedimentos ensinados por mim aos meus orientados foram determinantes para sua vida profissional, por garantir que ocupassem postos de emprego. É muito gratificante”, agradece. Hoje, a pesquisadora tem atuado junto a uma equipe na busca de soluções microbianas para a agricultura. Eles estudam micro-organismos que podem atuar no auxílio à promoção do crescimento vegetal e controle biológico. “Tal área tem muita importância ambiental por disponibilizar bactérias e fungos que passam a compor a biodiversidade microbiana do solo, muitas vezes perdida pela aplicação em excesso de herbicidas e fungicidas. Esses micro-organismos podem ser utilizados como alternativas sustentáveis ao emprego de fertilizantes, inseticidas e fungicidas”, explica.

Desafios - Para a pesquisadora, um dos grandes desafios da ciência é ampliar os espaços de discussão para que não somente TAEs, mas mulheres e também as minorias sejam ouvidas e possam mostrar seu diferencial. “Eu me solidarizo, por exemplo, com colegas que precisam frear seus currículos por passarem por um processo de maternidade, cumprir duplas jornadas – uma no laboratório e outra em casa, com os filhos”, justifica. “Os movimentos culturais e a divulgação científica podem ter um papel importante neste processo de transformação e equalização das oportunidades”, avalia.

Diretoria de Comunicação Social