“A academia não é mais detentora da verdade”
Pesquisadora do Instituto de Saúde do Estado de São Paulo explica porque as fake news ameaçam a ciência e o que as instituições podem fazer diante desse cenário.
Quem aí nunca recebeu um vídeo na rede social falando sobre um suposto chá emagrecedor que é sucesso? Ou a foto de um famoso ao lado de um político que, na verdade, foi gerada por Inteligência Artificial? A sofisticação do boato por meio da utilização dessas novas mídias foi uma das reflexões trazidas pelo VI Integra IF Goiano na manhã de terça-feira, 18, pela pesquisadora Cláudia Malinverni, do Instituto de Saúde do Estado de São Paulo. Jornalista por formação e doutora em Ciências pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, ela explicou como o fenômeno das fake news ganhou força e ameaça a ciência contemporânea.
Isso porque, segundo ela, o regime que fundamenta as fake news,, ou notícias falsas, é o da chamada pós-verdade, que consiste em ignorar os fatos objetivos em detrimento às experiências ou ao testemunho. Ou seja, a opinião pública hoje é mais influenciada por pessoas que conseguem convencer que algo é ou não é bom porque viu ou viveu a situação, ainda que haja pesquisas científicas que provem o contrário. “É preciso acabar com essa ideia de que a academia é a detentora da verdade”, sentencia Cláudia.
Para a pesquisadora, isso explica porque, por exemplo, uma influencer que nunca estudou nutrição nem educação física tem 1 milhão de seguidores e o mercado de suplementos alimentares a deixa milionária. “Ela não precisa mais do conhecimento, basta mostrar o próprio corpo, mostrar-se como testemunha desse regime discursivo”, justifica. Cláudia lembrou, também, quando o ex-presidente do Brasil recomendou o uso de cloroquina para tratar a Covid-19, embora a comunidade científica já havia desqualificado o seu uso.
A situação é tão complexa, segundo a pesquisadora, que em favor de uma indústria que gera muito dinheiro – a da desinformação, existem pesquisadores com credenciais que se vendem ao negacionismo e elaboram teorias que resultam, por exemplo, no terraplanismo ou negacionismo histórico, ou seja, aquele que nega o holocausto ou a ditadura militar brasileira. Ela cita, ainda, o negacionismo climático, que tira da ação do homem a responsabilidade pelo aquecimento global, bem como do agronegócio pelo desmatamento e queimadas, ainda que todos os dados digam o contrário. Por fim, o negacionismo sanitário, como no já mencionado caso da Covid e que, posteriormente, levou milhares de pessoas a duvidarem da eficácia das vacinas - algo inquestionável até há poucos anos.
Alternativas discutidas para melhorar esse cenário desolador estão na inserção da comunicação na grade curricular dos diversos cursos, para que os jovens tenham contato com uma formação que leve a um senso crítico a respeito do caos discursivo na era da midiatização. “A comunicação não pode ser mais encarada como tema transversal”, defende Cláudia. Ela sugere que as instituições criem, também, produtos de comunicação para divulgação científica, como podcasts.
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Diretoria de Comunicação Social
Republicada com edição de informações
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