Campus Ceres promove audiência sobre políticas públicas para mulheres
Evento encerrou programação do mês de março para o Dia Internacional de Mulher e teve ampla participação da sociedade civil e representantes do legislativo municipal e federal
Por Tiago Gebrim
(Esq. para dir.) Magna Cordeiro, Adriana Accorsi, Lorena Cavalcante (mediadora), Carolina de Podestá, Wliana Corrêa e Simone Oliveira
Na tarde da última sexta-feira, 31 de março, o Campus Ceres do Instituto Federal Goiano (IF Goiano) realizou a audiência pública ELAS para ELAS: pensando em Políticas Públicas para Mulheres. O evento, realizado no auditório do Cippi, entre 13h30 e 17h, foi cunhado na esteira do Dia Internacional da Mulher e trouxe cinco convidadas, representando diversos segmentos da sociedade - segurança pública, poder legislativo, iniciativa privada e o campo, para discutir as dificuldades vivenciadas no cotidiano e suas demandas.
Abrindo o evento, a gerente de Extensão da unidade, Marcela França, uma das pessoas à frente da organização, falou sobre a importância de união e sororidade. “Divulgando esse evento constatamos o que já esperávamos – há uma luta nossa, por nós mesmas, e é o que representa o nome desse evento”, afirmou. “Há muito o que se fazer, e o intuito aqui é discutir essa realidade, com diferentes percepções, e buscarmos soluções”.
Acompanhando o ELAS para ELAS, o diretor-geral do Campus, Cleiton Mateus, e o reitor do IF Goiano, Elias Monteiro, relataram brevemente suas impressões. Cleiton elogiou a escolha das participantes, feita cuidadosamente para montar um leque abrangente, possibilitando ver em diversos cenários a realidade das mulheres, especialmente na região do Vale de São Patrício. Elias Monteiro reforçou que essa é uma temática que precisa ser debatida, e precisava há muito ter sido superada, embora caminhe nessa direção. “Eu precisei esperar 28 anos para ver um evento destes ocorrendo nesse espaço”, ilustrou.
Participantes – A audiência pública foi composta de uma mesa redonda plural. Foram convidadas duas representantes do meio político – a deputada federal Adriana Accorsi e a presidente da Câmara Municipal de Ceres, Simone Oliveira –, a produtora rural Magna Cordeiro, secretária de Mulheres na Fetaeg, a agente da Polícia Civil Wliana Corrêa, integrante do Grupo Ponto Focal Rural de Ceres, e, representando a iniciativa privada, Carolina de Podestá Santana, diretora administrativo-financeira da Companhia Hidroelétrica de São Patrício (Chesp). O evento ainda teve participação ativa da plateia, que debateu e complementou vários encaminhamentos sugeridos pelas participantes.
Adriana Accorsi, primeira da roda a falar, sugeriu a reativação do Centro de Referência de Atendimento à Mulher do município, como forma de dar suporte às mulheres em situação de vulnerabilidade e violência doméstica. Na mesma direção foi a fala de Wliana Corrêa, que relatou casos impactantes de agressão e identificou um ponto nevrálgico: a legislação, quase sempre, não funciona em sua plenitude devido à falta de amparo à mulher no período posterior à denúncia ou à medida protetiva. Esse amparo é tanto financeiro quanto psicológico, que hoje não acontece como deveria e, não raro, acaba fazendo as vítimas voltarem atrás quanto às denúncias.
“O campo é um espaço que produz, comercializa, mas é invisível. Nós acordamos primeiro e dormimos por último”. A afirmação proferida pela produtora Magna Cordeiro serviu bem para ilustrar a potência da mulher do campo, e também a necessidade de que estejam organizadas. A convidada falou sobre a Marcha das Margaridas, movimento iniciado nos anos 2000 como forma de arregimentar a mulher da agricultura e da floresta, e que hoje abrange outros movimentos sociais, para a busca de políticas públicas.
Na posição de diretora de uma companhia essencialmente masculina – da área de geração/ fornecimento energético –, Carolina de Podestá dividiu suas experiências e dificuldades para alavancar a presença das mulheres em posições como a de eletricistas, tradicionalmente ocupadas pelos homens. Os empecilhos foram vários, inclusive na contratação de uma empresa que pudesse se deslocar até Ceres para ofertar o curso de formação. Citando a atuação dos profissionais que atuam em construções de redes elétricas em regiões ermas, ela provocou: “A mulher tem o mesmo suporte familiar para um trabalho em que se viaja por 30, 40 dias?”. Por fim, entre ações desenvolvidas pela empresa, a diretora citou uma atenção maior dedicada a prevenção de assédios e seus encaminhamentos. Aos poucos, acredita, “vamos melhorar o cenário”.
A agente Wliana Corrêa, da Polícia Civil de Ceres, durante sua fala
Encaminhamentos – As sugestões levantadas durante as discussões, entre as participantes com a plateia, serão compiladas em uma carta aberta, que será destinada às autoridades municipais, estaduais e federais. Entre eles, estão trabalhar a sucessão familiar no campo, com foco na educação para as mulheres, construir meios para amparo e apoio às mulheres que sofrem violência, muitas dependentes financeiramente dos maridos, facilitar o acesso das mulheres aos serviços de apoio e denúncia, inclusive em espaços comuns do dia a dia (estabelecimentos comerciais, por exemplo) e esclarecimentos sobre relacionamentos abusivos, muitas vezes tratados como naturais. Além disso, pensar em políticas públicas para a misoginia sofrida pelas mulheres e meninas no meio rural, a inclusão da mulher deficiente, e, também, formas de alterar a educação do público masculino, que ainda cresce com a mentalidade de subjugação da mulher.
A carta aberta será publicada no portal do Instituto Federal Goiano, em até 10 úteis, e estará disponível para consulta.
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